Juca Kfouri
Quanto mais velho, melhor
Dizem do vinho, mas poderia ser dito de um time de futebol, menos pela idade, mais pelo entrosamento
COMEÇOU MAL, muito mal, como se viu, a caminhada brasileira para a Rússia.
Nada que decrete a ausência pela primeira vez da seleção brasileira numa Copa do Mundo, depois de 20 participações desde 1930.
Tudo que revela como será difícil, e irritante, a empreitada.
Verdade que precisamos botar na cabeça de uma vez por todas que o futebol brasileiro deixou de ser o que um dia foi e que favorito mesmo o time nacional é quando joga em casa contra Venezuela, Bolívia, Peru, Paraguai e Equador –e vamos parando por aí.
Pois é exatamente contra a Venezuela, no Castelão, em Fortaleza, o próximo jogo, depois de amanhã.
A equipe "Vinho Tinto" vem de amarga decepção, derrotada em seus domínios pelo Paraguai, trauma só menor que o da Argentina contra o Equador.
Dizem que os vinhos, tintos bem entendido, ficam melhores à medida que envelhecem e o caso dos venezuelanos não é bem esse.
Porque faz pouco tempo que o futebol da Venezuela passou a fazer frente ao de seus vizinhos e parece que, como o país, caiu de Chávez para Maduro e voltou a ficar verde.
Times de futebol são como quaisquer outros times, precisam de entrosamento, se entender por música, sem precisar olhar onde o companheiro está, por saber que está onde deveria estar.
Com o perdão do exemplo perfeito, porque não se deve exigir perfeição de ninguém, é famoso o lance do gol que deu a vitória à seleção brasileira contra os então campeões mundiais ingleses na Copa de 1970.
Tostão estava de costas quando virou e deu para Pelé, sem vê-lo, no meio da área, e Pelé abriu para Jairzinho, porque sabia que ele estaria pela direita.
Aquele time jogava por música, já vinha junto desde as eliminatórias e tinha jogadores rodados, quase o inverso do time que vemos hoje, embora venha, pelo menos, da Copa América.
Só que é um time reprimido, que na falta de conjunto não exerce seu eventual talento individual porque teme desobedecer as ordens superiores, razão pela qual Elias fica preso e nem parece o meio-campista que atua no Corinthians.
Para não falar na nulidade de Oscar que ainda se intromete onde não é chamado ao bater falta que era para Willian ou treme diante da óbvia injustiça de jogar no lugar que deveria ser de Lucas Lima.
Dunga não olha para o momento que cada jogador atravessa e nem muito menos faz como João Saldanha ensinou em fins da década de 1960, ao juntar jogadores que já se conheciam dos clubes, mesmo tendo incomparavelmente mais tempo para treinar.
O meio de campo do Corinthians se entende por música, mas Dunga levou apenas dois dos quatro e ainda preferiu Kaká a Jadson.
Convocou Lucas Lima e Ricardo Oliveira, este na última hora, e só permitiu que eles jogassem juntos nos dez derradeiros minutos, quando a seleção já estava derrotada e totalmente envolvida pela inteligência de Jorge Sampaoli, convenhamos, um verdadeiro treinador de futebol.