Akram Khan monta Bangladesh mágica e pop em São Paulo
Descendente de bengaleses, bailarino nascido em Londres se apresenta no palco do Teatro Alfa
Timmy Yip, diretor de arte vencedor do Oscar por 'O Tigre e o Dragão', assina efeitos visuais do espetáculo
Bangladesh é um país cercado pela Índia, que já foi domínio do Império Britânico e do Paquistão, castigado por um calor dos infernos e enchentes apocalípticas.
"Desh" --terra natal em bengalês--, é a palavra que o bailarino Akram Khan, 40, nascido em Londres de pais bengaleses, trouxe de suas memórias afetivas para o solo que apresenta de sexta (17) a domingo (19) em São Paulo.
A referência é uma meia verdade para Khan, que cresceu em um subúrbio londrino e estudou em Notting Hill, área de bacanas que já foi bairro de imigrantes. "Meu pai queria que eu fosse bengalês. Eu queria ser Michael Jackson", diz.
É a segunda vez que ele vem dançar no Brasil. A primeira foi em 2011, quando apresentou os espetáculos "Vertical Road" e "Gnosis".
Ele diz ter certos laços com o país: os pais de sua mulher, japonesa, viveram em São Paulo. E conta que voltará à cidade em 2015 com seu novo trabalho, um duo com o espanhol Israel Galvan.
Em "Desh", as características que fazem a fama de Khan estão presentes, como a dança contemporânea misturada a estilos tradicionais, que ele transforma e modifica.
Interessam ao artista diferentes culturas, incluindo a pop. Além de Jackson, Fred Astaire, Chaplin e o hip hop vieram para a Bangladesh de Khan. "Eu os trouxe para a coreografia porque é isso o que sou, são as memórias corporais que tenho", diz.
Mas "Desh" trata de memórias mais profundas, perseguidas quando, em 2010, o dançarino resolveu criar um solo --algo que sempre quis fazer, mas até então não tinha tido coragem.
Quando achou que estava ficando velho, mergulhou na terra natal. "Rastreei meu passado e o do meu pai, e comecei a encontrar a identidade de meu trabalho."
Na coreografia, com trilha sonora de Jocelyn Pook (autora da trilha de "De Olhos Bem Fechados", de Kubrick), há também o encontro da Bangladesh urbana, barulhenta e revoltada com a floresta mágica das lendas indianas.
Nesta, o bailarino dança entre cipós, rios, plantas e animais feitos de luz, criação de Timmy Yip, Oscar de melhor direção de arte por "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee.