Crítica - Drama
'Juana aos 12' é metáfora da crise da Argentina neoliberal
Quem acompanha a produção recente do cinema argentino já se acostumou com o retrato que este entrega da classe média do país vizinho.
Nos cafés, intrigas e lamúrias. Nos escritórios, o cotidiano sufocante e melancólico, mas com lugar à poesia. E, nas ruas e esquinas de Buenos Aires, o espaço para o romance ou para trapaças.
"Juana aos 12", filme de estreia de Martín Shanly, 26, traz um outro mundo ao espectador, da Buenos Aires dos subúrbios endinheirados e das escolas bilíngues.
Criado nesse ambiente, o jovem diretor coloca em cena as próprias mãe e irmã, esta última como protagonista.
Juana é uma adolescente que não se ajusta. A mãe a leva a uma série de especialistas, sem questionar que o problema talvez seja o fato de a menina não sair nunca do ambiente protegido da escola e da casa ou do carro da mãe, que a leva a todo lado.
Desesperada para fazer amigos e ser amada, Juana faz maldades e identifica-se, sem saber muito o porquê, com a imagem da pintora mexicana Frida Kahlo, pendurada na parede, atrás da mesa da tagarela professora particular a quem não suporta.
O filme termina por ser um retrato de uma Argentina exposta à chacota dos apoiadores do governo esquerdista de Cristina Kirchner.
Os que estão em cena são os responsáveis pelos chamados "anos do neoliberalismo". O sonho acabou em 2001, com a crise do peso.
Filme que aparenta ser pessoal e autorreflexivo, "Juana aos 12" retrata, na verdade, o encolhimento de todo um projeto político. A possibilidade e a iminência da reação de Juana expõe uma Argentina que esboça acordar novamente em breve.