Crítica - Literatura/Romance
Estreia de escritora de 'Garota Exemplar' não convence leitor
'Objetos Cortantes' peca por diálogos artificiais e tom que resvala no kitsch
A IMPRESSÃO É QUE GILLIAN FLYNN É AQUELA 'GAROTA EXEMPLAR', QUE FAZ O DEVER DE CASA, MAS QUE NÃO CONVENCE QUERENDO POSAR DE 'DROGADINHA'
SANTIAGO NAZARIAN ESPECIAL PARA A FOLHAO estranho assassinato de uma criança na cidadezinha de Wind Gap, no Missouri, desperta o faro do editor de um jornal em Chicago, que manda sua repórter investigar o caso, esperando novos desdobramentos (e vítimas).
Escolhida a dedo por ser nativa de Wind Gap, Camille Preaker tem de voltar a cenários de sua infância, à relação conflituosa com a mãe dominadora e estabelecer laços com sua irmã adolescente, que ela mal conhece.
Primeiro romance da escritora Gillian Flynn, conhecida pelo livro "Garota Exemplar" --lançado no Brasil antes deste romance de estreia--, "Objetos Cortantes" é um thriller clássico de investigação jornalística.
Chega a ser genérico no primeiro quarto do livro, até que começam a ser revelados traços bizarros dos personagens, como a tendência de Camille de se mutilar e a prática precoce das meninas da cidade no sexo e nas drogas.
Não é uma transição sutil, e deixa a impressão de que a autora decidiu "vitaminar" a trama no meio do processo, para fugir da banalidade. E não é o único problema do romance, que tem diálogos bastante artificiais e um tom geral que beira o surrealista, mas resvala no kitsch.
Ainda assim, "Objetos Cortantes" não deixa de trazer surpresas. A identidade do criminoso oscila durante todo o livro entre três ou quatro personagens e a autora joga bem com isso.
Há também um erotismo latente, todos os personagens têm moral dúbia e flertam uns com os outros. A própria protagonista é uma alcoólatra depressiva e jornalista medíocre, que mais se envolve com o caso como vítima do que como heroína.
É uma boa história, escrita de forma pouco convincente. Bem adaptada, pode gerar um filme melhor do que o livro. A impressão final da obra é que Gillian Flynn é aquela "garota exemplar", que faz o dever de casa, mas que não convence querendo posar de "drogadinha".