Faço política com o pop, diz artista espancado
Francês Combo foi atacado em bairro parisiense ao pintar símbolo da paz entre religiões
" Vamos continuar a insultar as pessoas? Como nos EUA após o 11/9, aqui também haverá mudanças importantesComboartista de rua francês de origem árabe
Artista de rua em ascensão, o francês Combo (conhecido como Culture Kidnapper), 28, é um provocador. Já foi interrogado pela polícia parisiense por fazer cartazes críticos ao ex-presidente Nicolas Sarkozy e, em Hong Kong, fez colagens de páginas do Google censuradas pelo governo chinês.
Nos muros de Beirute, capital do Líbano, o rapaz, que não revela seu nome de batismo, espalhou a frase "Menos Hamas, mais homus", em que critica o grupo radical palestino. Em Los Angeles, nos Estados Unidos, fez uma campanha pela liberação da maconha.
Sua obra mescla referências de quando atuou como publicitário, em campanhas para Peugeot e McDonald's.
"Faço caricaturas e uso códigos da cultura pop ou temas políticos e os transformo em mensagens engajadas, na forma de grandes cartazes", diz.
Em Paris, sua assinatura aparece ao lado de uma foto do atual presidente francês François Hollande com o rosto do Tio Patinhas. "Quero que as pessoas reflitam, mas minhas colagens são sobretudo divertidas", diz.
Quando finalizava uma obra, no final de janeiro, quatro homens o espancaram num bairro de classe média parisiense. Combo desenhava o retrato de um homem barbudo (ele próprio) com um "djellaba", traje árabe, e a palavra "Coexist" (coexistir).
O que provocou a ira dos agressores foi a grafia de "Coexist", na qual substituiu as letras C, X e T por uma meia-lua, uma estrela e uma cruz, referência ao islamismo, ao judaísmo e ao cristianismo, respectivamente. O termo é conhecido mundialmente e foi usado pela banda U2 na turnê que passou pelo Brasil em 2006.
"Disseram que eu não poderia reunir os signos e me pediram para parar", conta. "Não dei atenção e partiram para a agressão." O resultado foi um ombro deslocado.
O caso foi divulgado pela imprensa francesa como exemplo de quão exaltados estão os ânimos desde o atentado ao jornal "Charlie Hebdo". Combo não descreve os agressores. "O que importa se são cristãos, judeus ou muçulmanos? Não quero alimentar o preconceito."
Nascido em Amiens (norte da França), filho de pai libanês cristão e mãe marroquina muçulmana, o artista não é religioso, mas diz sentir o preconceito. "Todo mundo que é diferente conhece o racismo. Não nos sentimos à vontade em nosso próprio país."
Para ele, isso explica por que franceses se juntam ao Estado Islâmico. "Há 30 anos, temos problemas nas periferias e nada é feito. Essa distorção faz as pessoas se sentirem árabes e não francesas."
Mas ele não está do lado dos que criticam as caricaturas de Maomé no "Charlie Hebdo", do qual é leitor.
Combo acredita, porém, que é preciso repensar como tratar alguns temas. "Vamos continuar a insultar as pessoas? Como ocorreu nos EUA após o 11 de Setembro, aqui também haverá mudanças importantes", aposta ele. De sua parte, lançou seu próprio movimento: "Em vez de jihad, jih-art."