Crítica cinema/comédia
Atores mostram química perfeita como caçadores improváveis de oficial nazista
Há muitos filmes sobre a tentativa de captura de criminosos de guerra nazistas. O uruguaio "Sr. Kaplan" não se parece com nenhum deles.
A diferença do filme é a figura de seu caçador de nazistas: um frágil e entediado senhor judeu de 76 anos, Jacob Kaplan (Héctor Noguera).
Tendo fugido da Europa durante os horrores da Segunda Guerra e construído uma vida pacata ao lado da mulher, dois filhos e uma neta, o senhor Kaplan chega à velhice se perguntando qual foi o sentido de sua vida.
A resposta surge quando o protagonista ouve dizer que um ex-oficial nazista vive isolado em uma praia perto de onde ele mora. Sequestrar "o alemão misterioso" e levá-lo a um julgamento em Israel passa a ser seu maior objetivo.
Para ajudá-lo, o senhor Kaplan convoca Wilson Contreras (o excelente Néstor Guzzini, de "Tanta Água"), ex-policial obeso e desastrado.
O diretor Álvaro Brechner sabe tirar humor da disparidade entre a importância da tarefa e a inadequação dos que se dispõem a executá-la. É como se O Gordo e o Magro, em uma versão uruguaia, brincassem de Simon Wiesenthal, o célebre caçador de nazistas, e tentassem prender sozinhos Josef Mengele.
Em uma chave menor, Brechner faz o mesmo que Quentin Tarantino em "Bastardos Inglórios": dessacralizar a abordagem do nazismo no cinema; entender que o riso também pode ser uma arma contra o horror.
Mas a levada de "Sr. Kaplan" tem menos a ver com o inspirado histrionismo de Tarantino do que com Alexander Payne ("Sideways - Entre Umas e Outras"), uma comédia ligeira sobre temas dramáticos que tenta expor o absurdo da vida, mesmo que para isso precise recorrer a um ou outro momento de pastelão.
As coisas se complicam, no filme e para o filme, quando chega o momento da gravidade, do embate entre o nazista e seu caçador, da memória do Holocausto.
A resolução para o mistério do alemão é um tanto abrupta e bastante frouxa --naturalmente, sem a graça do restante do filme, mas também sem o peso exigido pelo tipo de revelação feita. Aí fica claro que Brechner tem uma mão melhor para a comédia do que para o drama.
Mas o final do filme não estraga o prazer que ele ofereceu antes, nas cenas dos detetives selvagens interpretados por Noguera e Guzzini em perfeita química.