Construção da roupa é mote de coleção
Uma das propostas de Moda de A a Z é mostrar que há muito trabalho por trás de criações expostas nas vitrines
Mudança da silhueta feminina e detalhes dos materiais têxteis são focos de série que a Folha lança no domingo
Não basta ter uma ideia, tem que saber executá-la. Uma das propostas da coleção Moda de A a Z, que a Folha lança neste domingo (23) em bancas e livrarias de todo o país, é mostrar que por trás da roupa exposta na vitrine há um trabalho de construção de imagens por meio da costura.
A mudança da silhueta feminina e as características dos materiais têxteis estão no cerne do título, que acompanha um glossário de tecidos, e dos outros 23 volumes a serem lançados até janeiro de 2016.
O tunisiano Azzedine Alaïa, o americano Gilbert Adrian (1903-1959) e a francesa Agnès B. são alguns dos destaques do primeiro volume.
Adrian talvez seja aquele cuja obra melhor resume o papel da moda no empoderamento da imagem feminina.
Responsável pelo guarda-roupa dos filmes hollywoodianos das décadas de 1930 e 1940, foi figurinista-chefe do estúdio Metro-Goldwyn-Mayer, onde criou peças imortalizadas na tela por atrizes como Greta Garbo.
Antes de mudar-se para o Brasil, no final dos anos 1940, quando o Christian Dior inaugura uma nova era na roupa de festa, Adrian criara um tipo de silhueta que leva seu nome.
Concebida para esconder os "defeitos" do corpo da atriz Joan Crawford (1905-1977), a estrutura da roupa tinha ombros largos e quadris reduzidos, fatores que equilibravam as proporções.
Essa relação entre o cinema e a moda também define o trabalho da francesa Agnès Troublé (nome verdadeiro de Agnès B.), que criou figurinos para longas de David Lynch e coloca nomes de amigos atores, como Robert DeNiro, em suas criações.
Mais bem-sucedida estilista de seu país natal, Agnès é expressão de uma moda atemporal, com cortes angulares e simples, que conquistaram toda a geração de artistas europeus do século 20.
Uma de suas criações mais emblemáticas é o cardigã com botões de pressão, feito de felpa e com bordas de gorgorão. Os aviamentos, colocados próximos uns dos outros, são inspirados nos retratos de século 18 da cidade real Versalhes, onde a estilista nasceu.
O CORPO FALA
As minúcias que tornam "incopiáveis" trabalhos dos estilistas descritos na coleção também são destrinchados no glossário de tecidos.
Os ricos damascos usados nos trajes do estilista Paul Poiret (1879-1944), o primeiro a libertar a mulher do espartilho, é um exemplo dos tecidos descritos no livro.
O que seria do estilista Azzedine Alaïa sem o tecido stretch, por exemplo? Chamado de "O Rei do Collant", o tunisiano causou furor na moda com as roupas de couro e a estética "body building" exposta em roupas justíssimas.
Os contornos arredondados e soltos do espanhol Cristóbal Balenciaga (1895-1972) e as saias godês sobre quadris estreitos do francês Pierre Balmain (1914-1982), ambos descritos no segundo volume da série, também resgatam a importância da construção da roupa no sistema da moda.
Num mercado de moda tomado por roupas feitas em série, quando o escrito engraçadinho na camiseta é o único artifício da "expressão da personalidade", falar sobre a linha e a agulha pode ser uma boa ideia.