Crítica teatro/drama
Não há qualquer ousadia em nova montagem de Bergman
Não foi a primeira expressão de nostalgia de Ingmar Bergman (1918-2007) nem a última. Mas o impulso confessional de "Depois do Ensaio" responde por uma vertigem das mais agudas que o cineasta e dramaturgo produziu.
Na peça, um experiente diretor de teatro acorda de um cochilo sobre o palco, após ensaios de "O Sonho", de August Strindberg (1849-1912).
Logo, neste torpor da vigília, vê aproximar-se uma atriz de pouca idade.
A juventude e a inexperiência dela permitem a ele um olhar complacente com o presente. Mas há questões lá atrás. A mãe dela, também atriz, já morta, retorna então ao palco para elucidar coisas do passado. Elucidar é modo de dizer. Na conversa com o diretor, as coisas aparentemente se agravam, ou ficam mais nebulosas, especialmente pela associação entre personagens femininas.
Uma nova montagem do texto de Bergman, dirigido por Mônica Guimarães, está em cartaz no Teatro Eva Herz, em São Paulo, com Leopoldo Pacheco no papel principal, Sophia Reis no da filha e Malu Bierrenbach como a mãe.
Trata-se de versão com interpretações de feição intensa, mas sem muitas texturas, sem detalhamentos.
No texto, o protagonista propõe-nos perceber o silêncio dos palcos, olhar para essa espécie de vácuo que surge entre sessões repetidas à exaustão e que parece levar o teatro para um além que as outras artes não atingem.
Mas, na montagem, as pausas tornaram-se secundárias, a potência esmorece.
ALGO DE ESTRANHO
Não há também qualquer ousadia que nos leve a ver um novo Bergman. Os atores não se distanciam de leituras imediatas do original, não nos conduzem pela mão àquele estranho ponto de fuga onde conheceremos a revelação da peça.
Na sessão de estreia, Bierrenbach e Pacheco não pareciam dialogar, havia algo de estranho entre eles, como se ocupassem lugares diferentes, distantes.
Os diálogos são acompanhados pela melancolia de instrumentos de corda, tristeza sobre tristeza. Sublinha-se o que já é sublinhado, ainda que, no cenário, com cordas e sacos formando um cercado, preserve-se a beleza de algo que pode se mover, mas está ainda estático. (GF)
DEPOIS DO ENSAIO
QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom. às 19h; até 27/9
ONDE Teatro Eva Herz - Livraria da Cultura do Conjunto Nacional, av. Paulista, 2.073, tel. (11) 3170-4059
QUANTO R$ 60
CLASSIFICAÇÃO regular