Rock in Rio
Pepeu Gomes recria fases de sua carreira em CD instrumental
'Alto da Silveira' reúne memórias da infância, música para a filha e duas releituras para originais dos Novos Baianos
Novo álbum dispensa os longos solos de guitarra para mostrar resultados de anos de pesquisas do compositor pelo Brasil
"Não existe no Brasil a cultura da música instrumental." Pepeu Gomes afirma isso, com convicção, no momento em que lança "Alto da Silveira", seu primeiro álbum totalmente instrumental depois de 26 anos.
O último no gênero, "On the Road", foi gravado em 1989. Mas ele nunca abandonou completamente essa vertente. Naqueles álbuns que Pepeu chama de seus "discos cantados", dois ou três temas instrumentais faziam parte do repertório.
"Demorei para fazer esse trabalho. O álbum tem a minha visão do instrumental, essa mistura de guitarra brasileira com som eletro e acústico", explica Pepeu, que procurou o Sesc para o projeto.
"Achei que o Sesc poderia conduzir tudo com elegância. É o único apoio que temos hoje no Brasil para o instrumental. Não é comercial, está longe do patamar das músicas que tocam no rádio."
Pepeu conhece o sucesso comercial. Com hits na própria voz e na interpretação de cantores que levaram suas composições à grande repercussão das trilhas de novelas. Como "Alma", parceria dele com Arnaldo Antunes que Zélia Duncan gravou.
Ele considera que o álbum reflete sua consciência musical depois de 45 anos de carreira –e muito desse tempo dedicado a pesquisas pelo Brasil. "Alto da Silveira" é mais um disco de um músico do que de um instrumentista.
"Fiz pesquisas de harmonia que desembocaram nessas músicas, todas de minha autoria. O disco tem poucos solos, mas são bem colocados", afirma Pepeu, que inseriu na capa e no encarte canções de várias fases de sua vida. Na capa, aparece aos 12 anos, sentado num banco da praça que dá nome ao disco.
ARTISTA AOS 12 ANOS
"Não tenho foto de bebê, é nessa que apareço mais criança. Tinha acabado de aprender a tocar. Acho que ela já tem uma suntuosidade, na foto sou alguém que já se considerava um artista."
Pepeu morou na praça entre os sete e os 17 anos. Todo o álbum, na verdade, traz pedaços da memória do artista.
Uma das faixas é "Índio do Alto da Silveira". Índio era um dos muitos apelidos de Pepeu na infância. Já "Isabella... Eu Tive uma Ideia" foi feita para sua filha. Entre o menino e o pai de família, outras reminiscências motivaram as composições.
Duas delas são criações a partir de músicas dos Novos Baianos. "Bolado", do álbum "Novos Baianos F.C." (1973), gerou "Bolado 2". "Rockcarnaval", do disco "Caia na Estrada e Perigas Ver" (1976), virou "Rock no Carnaval".
A mudança de nomes se justifica. São praticamente novas canções autorais. Pepeu criou novas partes para elas e mudou os arranjos.
Mas o guitarrista reconhece a sonoridade de sua banda famosa em outras faixas, como "Na Pele do Pelé" e "Para Paco 'De Lucia'". "As duas são Novos Baianos total."
Depois de tanta estrada. Pepeu segue sem saber teoria. "Sou um músico intuitivo. Não sei escrever na partitura. Nem cifra eu sei. Componho com a intuição. Grava pedaços de músicas que invento, para depois juntá-los. Se você mostrar uma partitura, para mim é japonês."