Crítica cinema/drama
Com trama sobre ciganos, longa concebe faroeste fantástico no sertão nordestino
Em "Rio Cigano", primeiro longa da diretora Julia Zakia, temos uma espécie de faroeste fantástico no território árido do sertão nordestino.
Um grupo de ciganos caminha rumo às margens do rio São Francisco. Quando precisam atravessar terras privadas, entram em choque com os proprietários locais.
Uma menina, Reka, perde-se do grupo e é raptada pelos funcionários da fazenda. Passa a ser criada com eles, trabalhando como faxineira para uma condessa misteriosa.
Kaia, uma amiga de infância, vai à procura de Reka quando se torna adulta. E assim vemos a retomada de contato entre as duas meninas que brincavam alegremente no início do filme e o processo de desenraizamento pelo qual irão passar.
Enquanto retém seu olhar nos ciganos, na maneira como vivem e convivem entre si, o filme demonstra algum talento da diretora, e habilidade para captar detalhes do relacionamento humano.
Quando mostra somente os donos da terra, esbarra por vezes no mesmo maniqueísmo que contamina alguns filmes brasileiros recentes, como "Que Horas Ela Volta?".
Felizmente, esse segundo aspecto se resolve, pois Julia Zakia está mais interessada em mostrar os ciganos, suas crenças e as dificuldades de aceitação que eles sofrem, assumindo o místico na vilania daqueles que os oprimem.
A diretora encara o risco e contrapõe quem não tem posses aos latifundiários, os livres de espírito aos prisioneiros de códigos sociais, a natureza à clausura de um casarão escuro, a movimentação da câmera à rigidez da encenação.
O próprio filme se divide, com erros, acertos e uma certa confusão narrativa, entre a experimentação e o drama convencional com elementos de horror. E dessa salada toda temos um trabalho no mínimo interessante.
RIO CIGANO
DIREÇÃO Julia Zakia
ELENCO Leuda Bandeira, Jerry Gilli
PRODUÇÃO Brasil, 2014, classificação indicativa não informada
QUANDO estreia nesta quinta (17)
AVALIAÇÃO bom