Público vaia diretor Claudio Assis no Festival de Brasília
'Me apedreja que eu seguro a onda', diz pernambucano acusado de machismo
Seu filme, 'Big Jato', foi aplaudido; em agosto, ele e Lírio Ferreira atrapalharam debate com Anna Muylaert
Duas vezes vencedor do Festival de Brasília (por "Amarelo Manga", em 2002, e "Baixio das Bestas", em 2006), o cineasta pernambucano Claudio Assis experimentou pela primeira vez uma reação adversa da plateia do evento cinematográfico mais politizado do país.
No sábado (19), vaias e gritos de "machista" o impediram de apresentar seu novo longa, "Big Jato", antes de sua primeira sessão pública, como parte da competição pelo Candango de Ouro.
Em entrevista à Folha, Assis desabafou: "Se é para ser assim, tudo bem, me apedreja que eu seguro a onda. Mas o alvo está errado. Não estou dizendo que não sou machista, já pedi desculpas. Mas as pessoas que conhecem meu cinema sabem que ele é contra tudo isso que estão falando que sou".
Segundo o diretor, o que lhe "abala" é que os ataques "respinguem" em pessoas inocentes, como as crianças do filme. "Nós preparamos as crianças que estariam no palco. Conversei com meu filho, expliquei que o pai dele ia levar uma vaia", diz.
O protesto foi mais um capítulo da polêmica que começou no dia 29 de agosto, em Recife, quando Assis e o cineasta Lírio Ferreira atrapalharam o debate sobre "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert, no cinema da Fundação Joaquim Nabuco.
Amigos da diretora, eles chegaram ao local junto com ela para acompanhar o debate, mas, segundo relatos de pessoas da plateia, interromperam respostas e soltaram comentários considerados machistas e homofóbicos.
Na ocasião, Muylaert disse disse à Folha que via a atitude dos amigos como "narcisista". "A mulher tem dificuldade de subir no palco, e o homem, de descer dele."
Assis e Ferreira foram banidos por um ano das dependências da fundação, e o caso viralizou nas rede sociais.
Assis critica a ferocidade do "linchamento moral" disseminado pela internet. "Ali as pessoas se escondem e se utilizam dos outros. As coisas se invertem", afirma.
'BIG JATO' APLAUDIDO
Se o cineasta foi calado no palco do Cine Brasília, seu filme acabou falando por si.
A projeção do longa, inspirado no romance de mesmo nome de Xico Sá, correu normalmente e terminou com fortes aplausos, muitos de pé.
Narrando a história de um adolescente que quer ser poeta, "Big Jato" é um dos filmes mais líricos do diretor, com interpretação arrebatadora de Matheus Nachtergaele dividindo-se em dois papéis.
O ator saiu em defesa de Assis: "A história desse filme é a história de um menino em formação, com seus horrores e maravilhas. Podemos vaiar nossos horrores e e aplaudir nossas maravilhas".
Faltando dois concorrentes entre os longas (o documentário "Santoro "" O Homem e sua Música" e o drama "Prova de Coragem", de Roberto Gervitz), "Big Jato" desponta como um dos favoritos a prêmios no festival.