Crítica serial
LUCIANA COELHO coelho.l@uol.com.br
'Scream Queens' mira jovens e prazer culpado
Diversão inofensiva, nova série de Ryan Murphy, de 'Glee' junta matança em faculdade com piadas
Há coisas que assistimos porque são muito boas, há coisas que vemos porque nos são recomendadas e há as que não vão nos acrescentar nada, mas mesmo assim não resistimos. A julgar pelo episódio duplo de estreia que foi ao ar na última semana, "Scream Queens", da Fox, se trata do último caso, sem vergonha alguma.
A comédia de terror juvenil segue uma fórmula fácil de diálogos espertos, trama de suspense calcada num serial killer misterioso e auto-ironia, com um elenco lindinho de nomes pop (o cantor Nick Jonas, dos Jonas Brothers, como um garoto gay, e a midiática Ariana Grande) sem maiores escorregadas.
O trunfo para fisgar quem tem mais de 20 anos –ao menos por uns minutos– é a musa dos anos 1980 e 1990 Jamie Lee Curtis, dona de um timing cômico impecável, e a crítica bem-humorada ao egocentrismo em voga (como uma das mocinhas à beira de ser assassinada pedir misericórdia por mensagens de texto e preferir narrar sua perseguição em rede social a fugir).
"Scream Queens"é obra de Ryan Murphy, criador do terror "American Horror Story", da comédia adolescente "Glee" e da corrosiva "Nip/Tuck". Traz elementos de todas –a estética cuidadosa (atenção aos figurinos), o texto ácido e até nomes do elenco, como Lea Michele.
Voltam à tela também a estrutura dramática adolescente mais professora/diretora megera de "Glee" e os estereótipos da ficção do gênero (o bonitão abobado de bom coração; o nerd gatinho deixado de escanteio; a antagonista boa moça da vilã).
É raso, mas é também diversão altamente digerível em 45 minutos e 13 episódios.
Curtis é a diretora de uma faculdade que quer acabar com a hierarquia social das "fraternidades", aquele bizarro fenômeno americano com o qual nos familiarizamos graças à "Sessão da Tarde".
No topo dessa pirâmide, está a intragável Chanel Oberlin (Emma Roberts, de "American Horror Story"), a preconceituosa presidente da sororidade Kappa imitada por suas bajuladoras –preste atenção em Abigail Breslin, a garotinha de "Pequena Miss Sunshine" (2006), que cresceu.
A Kappa esconde uma morte ocorrida 20 anos antes, e parece ser ela a motivação do serial killer que passa a perseguir suas integrantes e pessoas ligadas à casa.
Caberá à heroína da história, a estudante deslocada Grace (Skyler Samuels), descobrir quem e o que está por trás dos crimes, exibidos na tela com muito sangue e inspiração em cenas clássicas do terror e suspense, como "Psicose" (1960).
A audiência da estreia não havia sido divulgada até a conclusão desta edição, mas a comédia se destacou nas redes sociais, sobretudo no Twitter, mostrando que agradou o público alvo. Com picos de 7.000 tuítes por minuto, chegou a atrair 118 mil pessoas durante sua exibição, simultânea com o Brasil.
Nada que vá mudar a vida, mas ninguém vai morrer se assistir um pouquinho.