Pai herói
Filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benario, Anita Leocadia Prestes lança biografia sobre o pai, em que demonstra inegável admiração ao líder comunista
O pai foi o maior líder comunista que o Brasil já pariu, coletando êxitos e fracassos em uma atuação pública –ainda que em alguns momentos clandestina– que se estendeu por sete décadas, consolidando-o como um dos brasileiros com maior projeção internacional no século 20.
A filha, fruto de uma incendiária relação com a agente comunista alemã Olga Benario, nasceu em um campo de concentração nazista e só foi conhecer o pai aos nove anos.
Mais tarde, se tornariam praticamente inseparáveis, construindo uma relação (ela seria também sua secretária por 32 anos) que só terminou com a morte dele, em 1990.
Historiadora por formação e aspirante a revolucionária comunista no século passado, por herança familiar, Anita Leocadia Prestes, 78, apresenta na próxima semana o seu "Luiz Carlos Prestes - Um Comunista Brasileiro" (ed. Boitempo), livro em que trabalhou por mais de três décadas e que classifica como uma "biografia política".
Evitando destrinchar detalhes da vida pessoal de Prestes, alguns deles espinhosos para a própria autora, como a ruidosa relação com a segunda e última mulher do pai, Maria do Carmo Ribeiro, Anita refaz a trajetória do personagem com uma inegável admiração que enfatiza a imagem mitológica do Prestes herói, embora também não o poupe de críticas.
"Mesmo quem não gosta dele reconhece que ele foi uma das lideranças mais importantes do século 20. Não dá para negar isso", afirma a historiadora à Folha.
Calcada em pesquisa documental e inúmeros depoimentos gravados no fim da vida de Prestes, a biografia aborda o período que moldou o Brasil moderno, que começa nas primeiras revoltas tenentistas, no início dos anos 1920, e termina na eleição de 1989, a primeira após a redemocratização, quando o comunista, ainda que relutante com o PT, declarou apoio a Lula no segundo turno da disputa contra Collor.
"Se há alguém que nunca se iludiu com o PT foi Prestes. Ele nunca considerou o PT um partido socialista ou revolucionário, ele achava o partido burguês. Inclusive o Lula, em quem ele reconhecia talento e inteligência, mas dizia a ele que era preciso estudar, pois só talento, sem conhecimento, não resolve nada", diz.