Livro tem críticas a Prestes, porém ignora vida pessoal
Biografia ainda deixa de lado fatos históricos, como um ato ao lado de Vargas
'Meu objetivo era deixar registrada sua atuação; ser filha ajudou, mas o fiz como historiadora', defende-se a autora
Segundo a historiadora Anita Leocadia Prestes, foi intencional a sua opção por ignorar aspectos da vida pessoal do pai, biografado em "Luiz Carlos Prestes - Um Comunista Brasileiro".
"Só entrou o necessário da vida pessoal para montar o quadro da participação dele em determinados episódios. Prestes não se distingue por ter sido, por exemplo, um excelente pai de família", diz.
Anita e as tias nunca tiveram boa relação com a segunda mulher de Prestes, que a conheceu nos anos 1950, durante um período em que vivia na clandestinidade. Ela iria acompanhá-lo até o fim da vida. Nas 560 páginas, Maria do Carmo Ribeiro só é citada uma vez –ela ao menos aparece em uma das fotos, reproduzida nesta página.
"No meu livro, [ela] não interessava muito. Mesmo sobre Olga, minha mãe, só falei o indispensável", conta.
Fatos polêmicos da vida política de Prestes também foram ignorados, como a participação do comunista em um ato político em São Paulo, em 1947, no mesmo palanque de Getúlio Vargas.
Na década anterior, ao liderar o fracassado levante comunista que tentara derrubar Getúlio, Prestes foi preso e condenado, enquanto sua mulher –alemã, judia e grávida– fora enviada por determinação do então presidente a um campo de concentração na Alemanha de Hitler. Olga morreu anos depois do nascimento de Anita.
A historiadora afirma que, ao escrever, optou pelos "momentos mais importantes".
"Prestes nunca fez aliança com Getúlio, nunca apertou sua mão. O que houve foi uma contingência política. Cirilo Júnior era candidato a vice-governador em São Paulo e era apoiado por Getúlio, líder maior do PTB, e por Prestes, líder do PCB. Eles apareceram juntos. Não achei que houvesse necessidade de escrever esses detalhes", ressalta a filha, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de outros livros sobre o pai (como um que aborda a Coluna Prestes) e a história do comunismo no Brasil.
Anita, contudo, critica a atuação de Prestes em certos episódios, como no justiçamento realizado pelos revolucionários, em 1936, contra a namorada de um dirigente do Parido Comunista.
Prestes foi um dos defensores da punição, e a jovem falsamente acusada pelos camaradas acabou executada.
"Meu objetivo era deixar registrada para as futuras gerações a atuação dele durante quase todo o século 20. Ser filha me ajudou a ter acesso a ele, mas fiz o livro como historiadora", defende-se.
Anita, pelo menos, não escreve em nenhum momento na primeira pessoa –forma utilizada em algumas poucas notas biográficas, e segundo ela por solicitação da editora.