Banco de dados
A falta de dados econômicos sobre o período em que viveu Júlio Mesquita dificultava a compreensão da obra do personagem. Afinal, crescer 10,5% ao ano por 40 anos seguidos era muito? Mais do que o crescimento do PIB do país ou menos? Era normal ou único? Para resolver essa dificuldade, Jorge Caldeira acabou se aventurando por um trabalho que está fadado a ser fonte de dados para inúmeras pesquisas a partir de agora: ele remontou por critérios atuais informações econômicas dispersas sobre o período. Esse conjunto de dados compõe o quarto volume da obra. É uma leitura mais árida para quem não gosta de cifras, mas abre um novo campo de estudos para os pesquisadores da economia brasileira da segunda metade do século 19 em diante.
CIDADE CENÁRIO
"Júlio Mesquita e Seu Tempo" é a biografia de um homem que testemunhou e influenciou a evolução de São Paulo. Já o recém-lançado "A Capital da Vertigem", de Roberto Pompeu de Toledo, é uma espécie de biografia da cidade. Por isso mesmo, muitas passagens do livro de Jorge Caldeira ecoam descrições de locais da cidade presentes no livro de Pompeu. As duas leituras se casam e se complementam.
TRÊS CHOPES POR DIA
Depois de se mudar para São Paulo, na adolescência, para estudar direito, Júlio Mesquita seguiu atado à interiorana Campinas de sua infância. E para lá ia em busca de um lugar onde não fosse reconhecido como o jornalista e político poderoso, mas apenas como o amigo de pessoas simples. Suas referências eram o modesto hotel Pinheiro e a Confeitaria Barsotti. Um dia, os convivas em sua mesa conversavam sobre os sonhos de cada um. Todos "viajaram" por palácios e haréns, fortunas e viagens. Até que um amigo de Mesquita, Saturnino Amaral, disse seu sonho: "Queria ter dinheiro para tomar três chopes duplos por dia, coisa que seus ganhos raramente permitiam", narra Jorge Caldeira. Comovido ao ouvir a simplicidade do desejo de seu amigo, Mesquita chamou o dono da confeitaria: "Seu Barsotti, o diabo é que acabei de perder uma aposta sobre sonhos realizáveis. Por isso, nosso amigo professor acaba de ganhar o direito de beber quantos chopes quiser por minha conta para o resto da vida".
SEM CHOPES PARA O RESTO DA VIDA
Por algum tempo, o professor Saturnino Amaral se beneficiou do presente que ganhou de JÚlio Mesquita. Até ficar sabendo da morte do amigo. Desse dia em diante, nunca mais bebeu.