Trecho
Júlio Mesquita e seu tempo
O tempo em que Júlio Mesquita viveu foi de grandes transformações. Ele testemunhou a chegada da ferrovia, do telégrafo, da eletricidade, do automóvel, do avião, do arranha-céu, do rádio, do voto universal, das guerras mundiais, dos regimes socialistas e do fascismo. Todas essas mudanças refletiram no Brasil: vilarejos se tornaram metrópoles; o trabalho artesanal se misturou com o das grandes indústrias; as reuniões sociais íntimas, com a ida a estádios lotados; a cultura oral tradicional, com o modernismo. Nas eleições, as conversas fechadas passaram a conviver com os grandes comícios. Houve várias revoluções.
Júlio Mesquita interagiu com seu tempo de forma privilegiada: começou a escrever para jornais na adolescência e a trabalhar como empregado da imprensa no início da vida adulta; tornou-se diretor e dono de "O Estado de S. Paulo", sempre trazendo mudanças. Entrou num jornal de prelo, uma publicação secundária de província, introduziu as rotativas elétricas e dominou o mercado local. Impôs ao país o jornal moderno, novidade da indústria cultural.
Um número indica a magnitude da atuação de Júlio Mesquita no âmbito do jornalismo. Em 1888, quando ele começou a trabalhar, a publicação tinha 904 assinantes. Quatro décadas depois, em 1927, 48.638 pessoas pagavam para receber o jornal em casa.