Pessimismo mundial sacode mercados
Incertezas em relação ao crescimento global levam investidores a buscar refúgio na renda fixa dos EUA
Dados fracos nos EUA e na China contribuem para recuo de ações em todo o mundo; novos indicadores saem hoje
Uma onda de pessimismo com o ritmo de recuperação da economia mundial sacudiu nesta quarta (15) os mercados internacionais, ocasionando quedas generalizadas na maioria das aplicações financeiras --ações, moedas, commodities e títulos de dívida pública e privada-- e agravando no Brasil o sobe e desce de Bolsa e câmbio, já sensíveis às pesquisas de intenção de voto.
O pessimismo, que na terça já derrubara o preço do petróleo, foi detonado após o resultado fraco nos EUA das vendas no varejo e das encomendas das empresas americanas a seus fornecedores em setembro. Ambos os indicadores recuaram em relação ao mês anterior, sugerindo um Natal fraco e menos facilidade à frente nos EUA.
O país inicia o mês de novembro, pela primeira vez desde a crise de 2009, sem a perspectiva de que o Fed (banco central dos EUA) injete recursos na economia.
O fim dos programas de incentivo, em tese, faria subir a taxa de juros americanos.
Mas, ontem, com a fuga para os títulos da dívida pública americana --de menor risco--, os preços desses papéis subiram, derrubando fortemente as taxas de juros (o mercado falava em "minicrash", já que muita gente apostava na alta das taxas).
Os títulos de dez anos chegaram a juros de 1,865% --abaixo de 2% pela primeira vez desde maio de 2013, indicando que o Fed só deve subir as taxas a partir de 2016.
A Bolsa de Nova York terminou o dia com baixa de 1,06% no índice Dow Jones (30 ações mais negociadas) e de 0,81% no Standard & Poor's 500. Na Nasdaq (ações de tecnologia), houve queda de 0,28%.
Na Europa, as ações tiveram as maiores perdas desde dezembro de 2011: 2,83% (Londres), 2,87% (Frankfurt) e 3,63% (Paris). O índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais empresas do continente, desabou 3,22%. Desde setembro o índice já recuou 11%. Segundo a Reuters, as empresas europeias perderam US$ 255 bilhões em valor de mercado.
"O mundo acordou e percebeu que a economia mundial não tem musculatura para crescer de forma sustentável. Na China se fala de crescimento indo para 6%; a Europa se parece cada dia mais com o Japão dos anos 1990; os EUA não são mais o motor sozinho", disse Newton Rosa, economista da SulAmerica Investimentos.
Para Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono, ficou nítido o fim do ciclo da valorização das commodities, o que deve prejudicar o Brasil e demais emergentes.
Nesta quinta (16), os mercados devem seguir de olho nos indicadores americanos, enquanto o Brasil reage aos resultados das pesquisas de Datafolha e Ibope.
Nos EUA, sai o número de pedidos de seguro-desemprego da semana passada, espécie de prévia da taxa de desemprego. Também serão divulgados os dados da produção industrial, estoques e uso da capacidade instalada das empresas americanas.