Vinicius Torres Freire
Capital financeiro uma ova!
Onda de paniquito de ontem reforça ideia de que finança está pessimista com Pibinho mundial
"TU ACHAS que o capital financeiro não vai aprontar de novo? Uma ova!" Quase dava para ouvir uma imaginária Luciana Genro dizer seu bordão daquele modo cantado dela ao assistir à confusão de ontem nos mercados financeiros.
É possível dizer o horário do início da onda de paniquito de ontem no mercado americano, mas ninguém parece saber muito bem o que está acontecendo na praça pelo menos desde meados do mês passado, afora que o clima está mudando.
Ontem (15) saiu um resultado fraco, mas pontual, a respeito da vendas do varejo nos Estados Unidos. Então tudo começou a rolar ladeira abaixo.
Esse número fraco foi a gota d'água numa bacia cheia de temores de que a economia mundial esteja desacelerando de novo e demais, mas não só. A finança parece temer também que a lerdeza europeia e a da China possa afetar a economia americana, de longe a mais saudável do mundo rico. Mas fica difícil de entender, como de costume, por que tanto barulho por tão pouco (o mês fraco do comércio americano).
Seja como for, logo depois da divulgação desses números do varejo, as taxas de juros dos títulos da dívida pública americana começaram a despencar em velocidade de "crash".
Isto é, os preços dos títulos começaram a subir, indicando que muita gente estava comprando esses papéis, em tese um refúgio, uma aplicação de baixíssimo risco, adequada para momentos de paniquito.
Podia ser apenas puro medo, podia ser medo detonado pelo fato de ter ocorrido uma explosão qualquer em alguma parte do mercado financeiro. Quer dizer, gente graúda perdendo muito dinheiro. Especula-se que faz algum tempo que fundos gordos vêm tendo prejuízos devido à aposta errada nos preços dos títulos da dívida americana, que vêm caindo desde meados de setembro, outro comportamento intrigante.
Em tese, as taxas de juros deveriam subir com fim do relaxamento monetário americano, com o aperto das torneiras de dinheiro que vazavam na economia faz quase cinco anos. Era o que vinha acontecendo, com algumas idas e vindas, desde maio do ano passado. Agora, os donos do dinheiro grosso parecem mudar de ideia.
A lerdeza econômica do resto do mundo vai afetar os EUA? Relatório divulgado anteontem por economistas de um bancão, Goldman Sachs, diz que não, baseado em estudos que relacionam o ritmo de dezenas de países com o andar da carruagem americana.
No mesmo relatório, observavam o seguinte: "Em contraste, muitos participantes do mercado provavelmente temem que o rebaixamento das expectativas atuais de crescimento mundial vai se mostrar enfim consideravelmente maior".
Levantamentos de outros bancões, como os do Bank of America, indicam que os administradores do dinheiro grosso estão pessimistas com o crescimento e mais avessos a aplicações de risco. Quer dizer, aplicam "dinheiro no colchão" (títulos da dívida americana) e vendem ativos baseados em "commodities", por exemplo, que desvalorizam com a baixa do crescimento global e são, de resto, mais arriscados (seu preço varia relativamente demais).
Mesmo sem desastres, agitos na finança mundial não são boa notícia para o Brasil.