Dólar atinge maior patamar em 10 anos
Com alta de 1,3%, moeda vai a R$ 2,774, influenciada por dados animadores do mercado de trabalho americano
Criação forte de postos de trabalho nos EUA gera a expectativa de que o Fed vai iniciar logo a alta dos juros
O dólar continuou a sua trajetória de alta e atingiu seu maior valor em mais de dez anos, sob a expectativa de que o Fed (BC dos EUA) vai subir os juros já neste semestre, após o mercado de trabalho americano mostrar dados animadores em janeiro.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,31%, para R$ 2,774, maior valor desde 9 de dezembro de 2004. No ano, a moeda sobe 4,76%. O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, teve alta de 1,20%, maior nível também desde 9 de dezembro de 2004. No ano, o avanço é de 4,36%.
A cotação da moeda foi influenciada pelo dado de emprego nos Estados Unidos, que cresceu acima do esperando, gerando a expectativa de que o Fed vai iniciar logo o aumento dos juros --praticamente zerados desde 2008.
A percepção é que, com juros mais altos nos Estados Unidos, recursos internacionais se direcionem para investimentos em títulos americanos, considerados de baixo risco, em detrimento de aplicações mais arriscadas, como as de países emergentes --dentre eles, o Brasil.
Diante da perspectiva de entrada menor de dólares no mercado brasileiro, o preço da moeda americana sobe em relação ao real.
"O mercado de trabalho americano está pegando fogo. Há uma criação de empregos forte, acima do esperado. Esse indicador é o que o Fed olha quando pensa em subir os juros", afirma Ignácio Rey, economista da Guide Investimentos.
Em janeiro, foram criados 257 mil vagas, acima da previsão do mercado. Foi o 11º mês seguido em que a geração de vagas ficou acima de 200 mil, a maior sequência desde 1994.
A taxa de desemprego terminou o mês em 5,7%, pouco acima do índice de dezembro, de 5,6%. O aumento, porém, foi gerado por um dado positivo: mais trabalhadores voltaram a procurar emprego no mês passado.
Outro indicador positivo é que a renda dos trabalhadores subiu no mês passado. Em 12 meses, a renda média avançou 2,2%, o maior aumento desde agosto do ano passado.
Os dados divulgados também mostram que a geração de emprego nos últimos meses de 2014 foi ainda maior que o inicialmente previsto.
Em dezembro, houve criação de 77 mil vagas mais que o estimado inicialmente e, em novembro, 70 mil, atingindo 423 mil, o melhor resultado mensal desde maio de 2010. Naquela ocasião, porém, grande parte dos empregos criados era temporária --muitos foram contratados para auxiliar no censo feito pelo governo americano.
FATORES INTERNOS
Segundo Rey, da Guide Investimentos, além do fator externo, há um componente interno na valorização da moeda americana.
"O dólar acaba refletindo a percepção do risco do país. E as últimas notícias envolvendo a crise da Petrobras e as dificuldades do ministro Joaquim Levy [Fazenda] em implementar seus ajustes acabaram piorando a sensação de risco do país", diz.
Nesta semana, a moeda americana se valorizou em 3,33% em relação ao real, a maior alta entre as moedas emergentes e mais que o dobro da obtida ante a lira turca, a segunda maior alta
"A tendência é que o real se deprecie mais daqui para frente. Até porque houve um otimismo exagerado com o ajuste fiscal", afirma Rey.