Vaivém das Commodities
MAURO ZAFALON - mauro.zafalon@uol.com.br
O caminho da madeira
Retomada dos EUA dá fôlego ao setor de madeira processada para compensar ritmo fraco da construção civil e dos setores de móveis e embalagens
Um setor vê uma luz no fim do túnel e poderá passar sem grandes problemas por este momento complicado da economia brasileira: o de madeira processada.
Internamente, a situação não é boa. Retração econômica, situação difícil nos principais segmentos que se utilizam dos produtos de madeira, carga tributária e outros tantos problemas inerentes a toda a economia brasileira.
A luz vem da área externa, que deverá dar um novo impulso ao setor. O dólar ajuda, assim como tem sido âncora para vários outros segmentos, mas é a recuperação da economia norte-americana que vai dar sustentação à indústria de madeira.
A retomada do mercado dos EUA está devolvendo ao Brasil o bom ritmo das exportações anteriores à crise financeira mundial de 2008, na avaliação de Marco Tuoto, presidente da Tree Trading --empresa especializada em madeira e produtos florestais.
Em 2005, as exportações brasileiras de madeira serrada de pinus atingiam US$ 304 milhões. Cinco anos depois, eram de US$ 154 milhões.
Em 2007 e 2008, a crise econômica mundial e a valorização do real tornaram o produto brasileiro pouco competitivo, e as exportações caíram pela metade em 2009, recuando para US$ 142 milhões, aponta Tuoto.
As empresas se voltaram para o mercado interno, aproveitando o bom ritmo da construção civil brasileira.
A atual desaceleração da economia, no entanto, faz o setor de madeiras também perder ritmo internamente. Isso porque os três principais segmentos que demandam produtos de madeira sofrem com a crise: construção civil, móveis e embalagens.
As esperanças estão no mercado dos Estados Unidos. Tuoto prevê que o setor manterá bom ritmo de vendas externas, que poderá crescer de 20% a 25% neste ano.
Em 2014, as vendas externas de madeira serrada de pinus subiram para US$ 230 milhões, mas ainda estão longe do patamar de 2005. Os EUA compraram 43% do produto exportado pelo Brasil.
A retomada da economia norte-americana é importante porque tem efeitos globais. "O crescimento da indústria automobilística nos EUA exige peças vindas, por exemplo, da Alemanha. E esses componentes vão exigir caixas de madeira", diz Tuoto.
O dólar também ajuda essa aceleração nas vendas externas, tornando o produto brasileiro mais competitivo.
O LADO RUIM DO DÓLAR
A desaceleração do real está com um ritmo muito rápido, diz Tuoto. Em setembro, o dólar estava a R$ 2,20, e, agora, supera os R$ 3,00. Para ele, o ideal seria uma taxa entre R$ 2,80 e R$ 3,00.
Essa valorização do dólar traz inflação e elevação dos custos para todos o setores.
No caso específico da madeira, as maiores influências de custos vêm de matéria-prima, fretes e energia elétrica.
Além do fator de pressão dos custos internos, o exportador vai ter de negociar com o importador, que exige descontos nas mercadorias, devido aos ganhos, em reais, que a valorização do dólar traz nas exportações.
O cenário para o setor de madeiras não é bom apenas para este ano. Tuoto acredita que essa tendência vá continuar pelo menos até 2017.
Se o mercado dos EUA é uma esperança, o da China --apesar de gigante-- não promete muito. Quanto mais o Brasil evolui para produtos sofisticados, mais o mercado chinês perde importância.