Dólar ameaça ganho da Petrobras com sobrepreço dos combustíveis
Estatal conseguiu recuperar R$ 6,4 bi das perdas de R$ 90 bi acumuladas de 4 anos de defasagem
Ganho, que chegou a R$ 2,6 bi em janeiro, caiu para cerca de R$ 500 mi com alta da moeda dos EUA
Depois de quatro anos de perdas com a defasagem nos preços dos combustíveis, que lhe causou rombo estimado em até R$ 90 bilhões, a Petrobras conseguiu, entre novembro e fevereiro, recuperar R$ 6,4 bilhões na venda de gasolina e diesel, graças à queda de mais de 60% na cotação do óleo entre julho e janeiro. A alta do dólar, porém, está eliminando o benefício.
O ritmo dos ganhos, no começo do ano, era um alento à diretoria da empresa, então chefiada por Graça Foster, às voltas com a necessidade de preservar o caixa, que sofria, além da defasagem acumulada, com a pressão de enormes investimentos e dívidas.
A oportunidade, porém, deve ser definitivamente extinta ainda neste ano, caso dólar e barril continuem subindo, como previsto.
Segundo o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), que fez a conta dos ganhos a pedido da Folha, em janeiro, quando o barril chegou a US$ 42, a Petrobras, que não atrela seus preços à cotação externa, vendia gasolina e diesel 56,8% e 50,8% mais caros, respectivamente, do que lá fora. Embolsou, no período, R$ 2,6 bilhões a mais.
Com a alta do dólar e a recuperação do barril, a defasagem caiu para 17% e 19%, respectivamente, em fevereiro, derrubando o ganho extra para R$ 1,1 bilhão no mês.
Em março, quando o dólar acumulava ganho de 20% e o barril foi a US$ 57, a gasolina e o diesel brasileiro estavam apenas 0,7% e 13,7% mais caros. O CBIE não estimou o ganho com esse período ainda, mas o mercado crê que tenha sido de pouco mais de R$ 500 milhões.
Recuos nas cotações do dólar, para R$ 3,10 e do barril, para US$ 53, na primeira semana deste mês, aumentaram o sobrepreço para 2,5% na gasolina e 17% no diesel.
Esses cenários, porém, não são esperados para os próximos meses. A previsão do mercado, segundo o boletim Focus, do BC, é de câmbio de R$ 3,25 até o fim do ano.
"Se a economia americana continuar crescendo, o barril também vai subir", afirma Celson Plácido, estrategista-chefe da corretora XP.
A Petrobras é impedida pelo governo, seu controlador, de ajustar os preços da gasolina e do diesel às cotações internacionais. Para evitar o impacto inflacionário, foi obrigada a vender combustíveis mais baratos do que lá fora, entre 2011 e 2014.
Foi salva das perdas graças à queda do barril, desde julho, quando estava perto de US$ 110. Nessa época, decidiu-se que os preços também não seriam ajustados para baixo, a fim de que a empresa pudesse ganhar com a situação.
ÓLEO PESADO
A receita da companhia com venda de combustíveis sofre impacto da cotação no exterior porque suas refinarias precisam de grande volume de petróleo leve, comprado no exterior, para produzir gasolina e diesel, já que o óleo extraído no Brasil, ainda predominantemente da bacia de Campos, é pesado.
E, justamente por ser pesado, é exportado com desconto de US$ 10 em relação à cotação do barril de Brent, referência internacional. A Petrobras também importa parte dos combustíveis que vende, porque não consegue atender toda a demanda interna.
"No balanço final, a Petrobras é uma importadora, e por isso a alta do dólar a prejudica. Além disso, sua dívida é 70% em dólar", diz Adriano Pires, sócio do CBIE.
"A oportunidade com a defasagem positiva está definitivamente acabando. Outro reajuste é urgente."