Foco
Fraude contra o IR usava uma única empregada na dedução de 502 patrões
De março a abril, Receita já autuou 80 mil contribuintes; profissionais liberais são alvo
Uma empregada doméstica com 502 patrões, um escritório de contabilidade em que 100% dos clientes pagam pensão alimentícia e um consultório que faz mais implantes dentários num mês do que daria conta num ano.
Esses são alguns dos alvos da Receita Federal em seu esforço de investigar e autuar pessoas físicas que, por meio de variadas artimanhas, sonegam Imposto de Renda.
Neste ano, o fisco tem na mira 280 mil contribuintes suspeitos que serão investigados. De março a abril, 80 mil já foram autuados.
Entre os casos pitorescos de despesas inexistentes está o de 502 pessoas que declararam pagar contribuição patronal para uma mesma empregada doméstica.
Os envolvidos ainda não foram autuados e ainda podem corrigir a declaração.
A multa aplicada ao contribuinte que tiver a fraude comprovada é de 150% sobre o imposto devido. Se ele tenta atrapalhar a fiscalização, a multa pode chegar a 225% e ele pode ser responsabilizado criminalmente.
A maior parte dos investigados não caiu na malha fina em anos anteriores. Por meio de um cruzamento posterior mais refinado, o fisco detectou inconsistências, como dinheiro no exterior, venda de imóveis, operações na Bolsa --todas não declaradas.
De acordo com o subsecretário de Fiscalização da Receita Federal, Iágaro Jung, o perfil mais visado pela Receita é de profissionais liberais, como médicos e advogados, que omitiram rendimentos, além de empresários.
Segundo Jung, declaração de pensões alimentícias falsas para abatimento na declaração foi uma das fraudes mais comuns neste ano.
Há indícios de que 25 mil declarações tenham forjado pensões, sonegando R$ 375,4 milhões. O combate a essa fraude suscitou uma operação especial, batizada de "Filhos do Vento", concentrada principalmente no DF.
Há casos de escritórios de contabilidade em que 100% dos seus clientes deduziram do imposto a pensão alimentícia, sendo que a fatia dos contribuintes que declaram pagar pensão é de 6,5%.
Até dezembro, a Receita espera recuperar em torno de R$ 7 bilhões desses contribuintes, que entregaram declarações inconsistentes em anos anteriores.
Em 2014, a Receita autuou 350 mil contribuintes, recuperando R$ 6,7 bilhões.