Cifras & Letras
Tecnologia reduz emprego em todos os ramos, aponta livro
Para autor, nova revolução não substituirá postos de trabalho perdidos
Martin Ford viu o futuro, e ele não funciona. Para ser mais preciso, ele gera riqueza, mas, ao mesmo tempo, oblitera a demanda por trabalho.
No século 19, o conselho de carreira era: "Vá para o Oeste, rapaz". O equivalente atual é "faça engenharia".
Mas a solução do século 21 é menos recompensadora. Um terço dos norte-americanos que se formaram em ciência, tecnologia, engenharia e matemática estão trabalhando em postos que não requerem esse tipo de diploma.
Por todo o território dos Estados Unidos, há programadores de computação trabalhando como atendentes em casas de fast food. Na era da inteligência artificial, eles se tornarão mais e mais obsoletos, diz Ford.
Ainda que ele seja um empresário do software, é fácil descartar seu livro "Rise of the Robots, Technology and the Threat of a Jobless Future" [A ascensão dos robôs, Tecnologia e a ameaça de um futuro sem trabalho], definindo-o como o desvario de um luddita moderno.
A obra é uma resposta de Ford às críticas a seu primeiro livro, "The Lights in the Tunel", de 2009, que se baseava em um experimento mental quanto à forma que o mundo do futuro adquiriria. O novo trabalho toma por base a economia atual. É bem pesquisado e perturbadoramente convincente.
A argumentação de Ford é que nossa atual revolução tecnológica é diferente das anteriores. A maioria dos economistas discordaria. A posição deles é que os deslocamentos atuais são semelhantes aos registrados na transição da agricultura para a indústria. Em 1900, cerca de metade dos norte-americanos trabalhava na agricultura. Hoje, esse tipo de emprego responde por menos de 2% da força de trabalho.
Da mesma forma que ex-trabalhadores agrícolas encontraram empregos em fábricas, os ex-trabalhadores industriais demitidos foram reempregados pelo setor de serviços. A revolução da tecnologia da informação não será diferente, dizem os economistas.
NOVA REVOLUÇÃO
Ford encontra dois grandes furos nessa visão otimista do futuro. Os efeitos da revolução atual são generalizados. De zeladores a cirurgiões, nenhum emprego estará imune. Quer você esteja treinando para ser piloto de jato de passageiros, vendedor no varejo, advogado ou operador financeiro, tecnologias que permitem economizar mão de obra estão reduzindo o número de pessoas empregadas em seu ramo.
Em 2000, o setor de serviços financeiros empregava 150 mil pessoas na cidade de Nova York. Em 2013, esse total havia despencado para 100 mil. No mesmo período, os lucros de Wall Street dispararam. Até 70% de todas as operações de ações são hoje executadas por algoritmos.
Veja o exemplo da mídia social. Em 2014, o Facebook adquiriu o WhatsApp, com 55 funcionários, por US$ 19 bilhões, espantosos US$ 345 milhões por funcionário.
Riquezas dessa ordem oferecem pouco conforto aos milhares de trabalhadores incapazes de encontrar emprego.
Quase qualquer trabalho que envolva sentar diante de uma tela e manipular informação está desaparecendo, ou o fará em breve. Nenhum ser humano consegue concorrer com os custos da automação em queda impiedosa.
FIM DA DEMANDA
Mas é o segundo ponto de Ford que decide a discussão. Ao desviar os lucros da nova economia para alguns poucos, os robôs enfraquecem o principal propulsor de crescimento --a demanda da classe média.
Conforme a força de trabalho se torna pouco econômica com relação às máquinas, o poder aquisitivo diminui.
A economia dos Estados Unidos produz mais de um terço a mais hoje do que produzia em 1980, com uma força de trabalho do mesmo tamanho e uma população significativamente maior.
Continua a fazer sentido obter um diploma. As pessoas formadas no ensino superior ganham mais do que aquelas com diplomas de segundo grau. Mas os retornos que elas obtêm estão em queda.
A economia robotizada está comprimindo nossas recompensas inexoravelmente, no mercado de trabalho. A resposta de Ford é pagar a cada adulto uma renda básica mínima --o "dividendo cidadão".
A solução tem lógica, mas não é muito realista. Minha previsão é de que carros voarão antes de sua adoção.
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