Rei da soja dá lugar a gestão profissional
Desde meados dos anos 1970, quando Olacyr de Moraes assumiu a alcunha, produtores se transformaram em empresas
Grandes nomes do setor compartilham decisões, negociam empréstimos no exterior e levam até empresas à Bolsa
A lavoura que transformou Olacyr de Moraes, morto na semana passada, no rei da soja em meados dos anos 1970 não é mais a mesma. A área cultivada no país saiu dos 6,9 milhões de hectares em 1976 para os atuais 31,9 milhões.
A produção saltou de 12 milhões para 96 milhões de toneladas de soja, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Os transgênicos passaram a dominar o campo, e os produtores, safra após safra, escolhem a melhor semente para o solo e o clima de sua propriedade entre uma farta variedade de tecnologias.
A comercialização também mudou: com acesso à informação e a armazéns, a venda é estrategicamente planejada, visando melhores preços.
Quando se fala na gestão de milhares de hectares no cerrado, as decisões não são mais tomadas pelo produtor pessoa física. O agricultor deixou o seu CPF de lado e criou empresas com gestão profissionalizada, ações em Bolsa, equipe de engenheiros e gerentes no campo.
Não faz mais sentido, portanto, falar em um novo rei da soja. Eraí Maggi, que é considerado o maior produtor individual do país e até poderia assumir a alcunha, formou o grupo Bom Futuro para administrar sua produção no início dos anos 2000 --a família está na atividade desde 1964.
Ele evita falar em números e, rindo, diz não comparar sua produção com a do vizinho. Sabe-se que cultivou mais de 400 mil hectares na safra 2014/15 e esperava colher 1 milhão de toneladas de soja.
"Hoje não é mais só plantar e colher. Estamos pensando na sustentabilidade, cuidando da comercialização, assegurando em Bolsa o preço de venda dos produtos dois anos à frente, travando câmbio, contratando empréstimos no mercado externo para a lavoura", afirma.
Além do Bom Futuro, outros grandes grupos cultivam áreas que ultrapassam os milhares de hectares em grãos. Na lista estão a SLC Agrícola e a Vanguarda Agro, as duas com ações negociadas em Bolsa, e o grupo Bom Jesus.
Há ainda a Amaggi: empresa do senador Blairo Maggi (PR-MT), primo de Eraí, que, além da produção, tem indústria esmagadora de soja, trading, investimentos em logística e presença global.
Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja-MT (associação dos produtores de soja e de milho do Estado), diz que a profissionalização é reflexo de crises anteriores, que fizeram com que alguns agricultores abandonassem o setor. Dos que sobreviveram, parte decidiu formar empresas.
"O agronegócio ficou muito profissional pela escala, porque tem que buscar alta produtividade no campo, mas com baixo custo", diz Arlindo Moura, diretor-presidente da Vanguarda.
A produtividade a custo controlado é peça-chave para garantir a segunda colocação do país como produtor e exportador mundial de soja. Em 2014, o complexo (grão, farelo e óleo) foi o produto mais exportado, respondendo por 14% da receita total.