Em Cannes, Brasil lidera na área de saúde
País leva 17 estatuetas (5 de ouro) em evento paralelo, que também julga campanhas publicitárias sobre bem-estar
Agências brasileiras, porém, não apresentam uma grande campanha, capaz de levar o prêmio máximo da categoria
O festival internacional de publicidade Cannes Lions estreia neste domingo (21), mas a contagem dos Leões (as famosas estatuetas do festival) começou mais cedo.
Na sexta-feira (19), o Brasil conquistou 17 estatuetas, incluindo cinco ouros, no Lions Health, evento paralelo dedicado a campanhas nas áreas de saúde e bem-estar.
O número deve ajudar as agências brasileiras a bater novo recorde em volume de prêmios --diretamente relacionado ao volume de inscrições e a constante profusão de categorias no festival.
O Brasil, no entanto, não concorre com nenhuma campanha arrebatadora, capaz de conquistar Grand Prix (prêmio máximo em cada categoria), como foi o caso da "Retratos de Real Beleza", em 2013, campanha da Ogilvy Brasil para a marca Dove.
"É preciso analisar a performance do Brasil não só pelo número de prêmios,mas também pelo tipo de categoria e pelas ideias", afirma Luiz Fernando Musa, presidente da Ogilvy & Mather Brasil, eleita agência do ano em Cannes em 2013.
"Para o tamanho do nosso mercado, tem inscrição demais do Brasil e não acho que temos um desempenho compatível. A manchete que fica é o número de Leões. Mas tem que ver se eu ganhei ouro nos 100 metros rasos ou no cuspe à distância."
Dos 17 Leões conquistados na sexta, 6 são da Ogilvy. Duas marcas de protetor solar ganharam ouro: Sol do Rio de Janeiro (agência Ogilvy com a campanha "Tatuadores contra o câncer de pele") e Nívea (agência FCB com a campanha "Bonecas").
Essa última, que distribuiu nas praias do Rio bonecas que ficavam vermelhas quando expostas ao sol sem protetor, deve levar mais Leões.
GAROTAS
A campanha que, nas apostas do setor, é cotada para conquistar muitos e muitos Leões neste ano --"Like a Girl", da agência Leo Burnett (Londres, Toronto e Chicago) para a marca de absorvente Always-- descende, de certa forma, de uma ideia inaugurada pela campanha da Ogilvy brasileira para a Dove.
Ambas usam linguagem de documentário e desnudam preconceitos que minam a autoestima da mulher.
Na da Dove, autorretratos revelavam que as mulheres tinham de si uma imagem pior que a feita por outros.
Em "Like a Girl", meninas não se identificam com o preconceito embutido na expressão "agir como uma garota" e mostram que se sentem fortes e vencedoras.
"Faltam cases brasileiros de impacto para grandes marcas", diz Musa, que admite não ter ficado satisfeito com a performance da agência em 2014, depois do sucesso do ano anterior.
Para Marcos Versolato, vice-presidente de criação da DM9, não foi só o Brasil que não produziu campanhas arrebatadoras neste ano.
"O mundo todo não está forte neste ano. Temos coisas muito boas e talvez tenhamos bons ouros", diz. "'Like a Girl', que deve ganhar muitos Leões, não é inovadora. É uma boa execução de um formato inaugurado por Dove."