Nova proposta grega muda aposentadoria
Grécia também concorda em elevar tributos de alimentos e de hotéis, para tentar receber socorro financeiro
Líderes tentam acordo hoje; oferta é "boa base de negociação", segundo assessor da Comissão Europeia
Sob pressão, o governo da Grécia fez neste domingo (21) uma nova proposta para evitar o calote e o risco de sair da zona do euro.
Os líderes do bloco da moeda única se reúnem nesta segunda (22) em Bruxelas para tentar impedir o colapso grego a partir de 30 de junho, quando acaba o prazo para o pagamento de uma dívida de € 1,6 bilhão com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Para quitá-la e manter a recuperação, a Grécia tenta desbloquear o acesso a € 7,2 bilhões, a última parte do socorro de € 240 bilhões recebido do FMI e BCE (Banco Central Europeu) desde 2010.
FMI, BCE e os principais líderes europeus têm exigido compromissos fiscais em troca de liberar a verba.
Eleito em janeiro sob o discurso contrário à austeridade dos governos anteriores, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras (do partido de esquerda, Syriza), vinha resistindo e negando nova oferta.
Diante do tempo que se esgota, ele conversou no fim de semana por telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente francês, François Hollande, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker.
Pela nova proposta, cujos detalhes não foram divulgados oficialmente, o governo aceitaria aumentar tributos de alguns alimentos e do setor hoteleiro e mexeria numa espécie de aposentadoria antecipada, gerando economia de € 200 milhões.
Martin Selmayr, chefe do gabinete do presidente da Comissão Europeia, afirmou em sua conta no Twitter que as propostas foram consideradas "uma boa base" de negociação pelos credores.
Segundo o jornal "The Guardian", os credores estariam dispostos a repassar mais € 18 bilhões à Grécia pelos próximos seis meses, dependendo das negociações.
Tsipras fez uma reunião de emergência com seus principais ministros, entre eles o de Educação, Cultura e Religião, Aristides Baltas, que confirmou os detalhes à Folha.
"Nós estamos otimistas para um acordo, mas não certos de que vá ocorrer. Querem mexer em salários e pensões, mas precisamos ter segurança", disse o ministro.
Segundo ele, dependendo dos pontos negociados, o Parlamento terá de aprovar as medidas. Neste domingo, simpatizantes do Syriza foram às ruas de Atenas defender a postura do governo.
O encontro dos líderes em Bruxelas é considerado a última tentativa de se chegar a uma solução até 30 de junho.
Com o calote e o empréstimo bloqueado, a Grécia estaria pela primeira vez sem ajuda externa desde 2010.
"Não há tempo a perder", afirmou o francês François Hollande, pedindo que as negociações cheguem a acordo.
O efeito do calote no FMI seria imediato, com os bancos gregos tendo de conter saques --pelo menos € 5 bilhões foram retirados na semana passada. Em resposta, o BCE aumentou a margem de assistência de liquidez de emergência ao bancos gregos em cerca de € 1,75 bilhão.
A Grécia cresceu 0,8% em 2014, mas o desemprego continua o maior da Europa (25%), a dívida pública ronda 175% do PIB (era 129% em 2009) e a economia encolheu 25% em cinco anos.
NA INTERNET
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