Para governo, Congresso precisa entender recado dado pela S&P
Agência afirmou que manutenção da nota do país depende da aprovação de medidas de ajuste
Parte da equipe, porém, diz que perspectiva foi alterada porque não se esperava redução tão forte da meta fiscal
A mudança no viés da nota brasileira pela Standard & Poor's foi mais uma notícia negativa para o Brasil, mas assessores da presidente Dilma enxergam um lado positivo na decisão da agência de classificação de risco.
Ela pressiona o Congresso Nacional a aprovar medidas de aumento de receita propostas pela equipe econômica para cumprir a nova meta fiscal de 0,15% do PIB.
O governo já temia que a agência colocasse a nota brasileira, hoje no último patamar de grau de investimento, numa perspectiva negativa para a próxima revisão.
A partir de agora, o Brasil fica a um passo de perder o selo de bom pagador pela S&P, o que é visto como "muito preocupante" pela equipe econômica de Dilma.
Assessores presidenciais consideram, porém, que essa decisão da agência viria mais cedo ou mais tarde depois da redução drástica da meta de superavit primário de 2015 de 1,1% para 0,15% do PIB.
A mudança antes do fim do recesso parlamentar é vista como uma chance de que deputados e senadores, ao voltar ao Congresso, saibam que sem a aprovação de medidas de aumento de receita cresce muito o risco de o Brasil perder o grau de investimento.
Agora, diz um auxiliar presidencial, fica mais claro que o Congresso tem sua parcela de responsabilidade para garantir o reequilíbrio das contas públicas do país.
A S&P, ao divulgar sua decisão, explicitou esperar que o Congresso aprove medidas como a tributação da regularização de dinheiro de brasileiros no exterior, com a qual o governo espera arrecadar R$ 11 bilhões neste ano.
Nesta terça (28), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rechaçou declaração de Levy concedidas ao "Estado de S. Paulo" de que o Congresso tem agido para enfraquecer a meta fiscal.
"Talvez ele [Levy] não saiba lidar com a economia ou com o Congresso. Todas as medidas do ajuste fiscal foram aprovadas. Não foi o Congresso que deprimiu a economia."
À noite, a Fazenda divulgou nota em que diz que os ajustes em processo na economia deverão trazer "novas condições de competitividade" e citou a importância do Congresso na aprovação de medidas.
TAMANHO DO CORTE
Do lado negativo sobre a decisão da S&P, assessores presidenciais consideraram que ela foi tomada não muito pela revisão da meta em si, mas pela "magnitude" da redução do superavit, e também porque a Fazenda não preparou o mercado para a mudança.
A Folha apurou ainda que outra agência de classificação de risco, Moody's, ficou irritada com a equipe econômica porque teve reunião na Fazenda e não recebeu nenhuma sinalização de que o superavit poderia sofrer "tamanho choque" de redução.
No Congresso, o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), disse que a perspectiva negativa da nota é um reflexo da crise política que o governo enfrenta.
Já o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que o enfraquecimento do apoio do governo não pode ser usado como argumento para reduzir o grau de investimento do Brasil.
"Não levo muito em conta a avaliação dessas agências, que ficam dando carão nesse ou naquele país. O Brasil tem uma economia sólida. As agências têm que se preocupar com a China e com a Europa, que degringolaram."