Desconto furado também aborrece britânicos
No Brasil, especialista aponta falha dos varejistas na execução das ações promocionais
A preocupação de não cair em promoções furadas no supermercado não é privilégio do consumidor brasileiro.
No Reino Unido, o órgão regulador da concorrência está em pé de guerra com as redes de supermercados líderes para combater "práticas inadequadas que podem confundir ou enganar os consumidores".
Após três meses de investigação, a entidade anunciou no mês passado uma série de recomendações para dar mais transparência às promoções no varejo.
Entre as medidas está a eliminação das táticas que criam uma falsa ilusão de economia para o consumidor, como as promoções "de/por" em que um produto é vendido com desconto por muito mais tempo do que o período do preço cheio, sendo esse superior ao que de fato vale o item, numa versão britânica do "metade do dobro".
No Brasil, quando os clientes reclamam de terem escolhido um item em promoção da prateleira e pago mais por ele no caixa, os varejistas costumam atribuir a ocorrência a uma falha pontual.
De acordo com o Procon-SP, é difícil explicar com exatidão qual motivo tem levado ao aumento das queixas neste ano: se é a maior conscientização dos consumidores com suas finanças diante da crise ou se a frequência das promoções furadas cresceu.
DESAFIOS DE EXECUÇÃO
Para a especialista em consumo Fatima Merlin, sócia da Connect Shopper, ainda existem "desafios de execução" que acabam provocando gargalos nas grandes ações promocionais.
"Quando o varejo desenha a campanha de promoção, existe um processo muito complexo para garantir que o preço anunciado seja praticado. Não é fácil operacionalizar. Precisa engajar bem os funcionários, os sistemas e as diferentes áreas da empresa", afirma.
Procurada, a Abras (associação brasileira dos supermercados) não se pronunciou. A Apas (associação paulista) respondeu que as estratégias promocionais são de responsabilidade de cada supermercado.
O Grupo Pão de Açúcar, que reúne bandeiras como Pão de Açúcar e Extra, afirma que "vem intensificando suas práticas de controle e, entre as medidas adotadas, vale ressaltar as auditorias diárias com a conferência dos preços, o aprimoramento dos sistemas de tecnologia e o treinamento dos funcionários".
Já o Walmart afirmou que "não adota a prática de promoção" porque, segundo a empresa, tem preços competitivos todos os dias.
O Carrefour diz que suas ações são planejadas antecipadamente em parceria com fornecedores e, "para atender eventuais demandas, disponibiliza canais de relacionamento e equipes treinadas a fim de garantir a satisfação dos clientes".