Análise
Movimento chinês afeta exportações brasileiras
Os mercados foram tomados de surpresa com a nova política cambial chinesa, ao permitir que a moeda do país fosse determinada pelas forças de mercado.
Com o acirrado controle de capitais existente na China, a saída de recursos do país asiático, por canais permitidos ou não, tem pressionado a cotação da moeda chinesa em relação ao dólar.
Permitir atualmente que as forças de mercado ditem a cotação da moeda chinesa tende a ajudar a economia daquele país, conferindo maior competitividade a seus produtos no mercado internacional.
Entretanto alguns pontos merecem destaque:
1. É preciso louvar a atitude do governo chinês, que permitiu maior flexibilidade à sua paridade cambial. Acredito que caiba a pergunta: uma pressão compradora da moeda chinesa levaria a China a apostar na flexibilidade cambial que ela tem alardeado nestes últimos dias?
2. Em relação ao nosso comércio bilateral (Brasil-China), a depreciação de apenas 3% (até quarta-feira) em pouco –ou quase nada– deve afetar o nível de importações que o Brasil apresenta com aquele país. Dado que o real já se depreciou pelo menos 50% nos últimos 12 meses, uma depreciação do yuan entre 5% e 10% ainda neste ano pouco tende a afetar o nível de nossas compras.
3. Por outro lado, o governo chinês acabou enviando um recado claro aos agentes econômicos de que a desaceleração chinesa talvez seja pior do que o esperado. Acredito que nos próximos dez anos o crescimento chinês, na média, dificilmente será maior do que 5% a 5,5%.
Com isso, o preço de commodities, principalmente as metálicas, deve manter-se em queda. Nesse aspecto, a pauta de exportações brasileiras para a China, fortemente concentrada em minério de ferro, soja e petróleo, deve ser impactada negativamente.
4. Acreditar que o movimento de maior flexibilidade cambial ditada por Pequim seria parte de uma estratégia para tornar a moeda chinesa uma moeda conversível é um longo passo. Para moedas se tornarem conversíveis, precisam contar com a livre mobilidade de capitais no país, o que não é o caso da China.
CONTA DE CAPITAL
Considerar que o país asiático abrirá completamente sua conta de capital permitindo a livre mobilidade de capitais, condição necessária para que uma moeda seja conversível, seria acreditar que o governo chinês deixará de utilizar seu sistema financeiro como braço parafiscal a fim de garantir o crescimento econômico –o que evita tensões sociais e garante a legitimidade do Partido Comunista chinês.
Expor os bancos locais a uma fuga de capitais, como a do Sudeste Asiático em 1997/1998, certamente não seria a melhor receita para a continuidade do crescimento econômico chinês –mesmo com as taxas bem mais reduzidas nos próximos anos.