Segunda-feira negra
País está preparado para passar pela turbulência, diz Levy
Ministro minimiza risco de recessão global causada pela desaceleração chinesa e descarta pressão para deixar cargo
Planalto, no entanto, vê com preocupação o cenário, sob o temor de que economia volte a encolher em 2016
Em meio às quedas nos mercados e ao temor de uma recessão global, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta segunda (24) que o Brasil está preparado para enfrentar a turbulência.
"Sabemos que poderia haver essa volatilidade. E não devemos confundir essa volatilidade com um problema permanente da nossa economia", disse Levy em Washington, onde está em visita particular.
O ministro minimizou o temor de uma recessão global causada pela desaceleração na China e citou uma frase de Franklin Roosevelt, presidente dos EUA durante a Segunda Guerra: "A única coisa a temer e o medo". Para ele, a economia chinesa passa por acomodação. Mas disse acompanhar o tema com cuidado.
Segundo ele, "a China está se reinventando", na transição de um modelo econômico sustentado por investimentos e exportação para um que tenha no consumo seu principal motor.
RUMORES
Sobre os rumores de que estaria sob pressão para deixar o governo, Levy disse que veio à capital dos EUA, onde a mulher e as duas filhas vivem, para se despedir de uma delas, que irá estudar na China.
"A permanência no cargo não está em discussão, há muita tranquilidade. A presidente Dilma teve a gentileza de me permitir vir aqui", disse. "Tem que dar um pouquinho de carinho, a gente também é pai."
Em evento à noite em São Paulo, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também disse que o Brasil tem se preparado para enfrentar a conjuntura global desfavorável, "seguindo a receita padrão": reforçar a política econômica para manter os fundamentos sólidos.
Ele citou, entre eles, o câmbio flutuante, a política fiscal responsável e o sistema de metas de inflação.
Na mesma linha de raciocínio, Nelson Barbosa (Planejamento) disse: "Temos um elevado estoque de reservas internacionais, o que dá ao Brasil segurança para enfrentar essa flutuação cambial sem gerar problemas financeiros".
PREOCUPAÇÃO
Apesar do discurso dos ministros, o Palácio do Planalto considerou como preocupantes os efeitos da piora do cenário externo sobre o Brasil porque vão dificultar ainda mais a recuperação da economia neste ano e no próximo.
O receio é que uma desaceleração chinesa acentue a retração do Brasil em 2015 e gere risco real de o país continuar em recessão em 2016.
Diante da queda no consumo interno, o governo apostava no setor exportador, com a alta do dólar, para iniciar a recuperação da economia.
Agora, uma maior desaceleração da China terá impacto negativo no comércio mundial, podendo frustrar as expectativas de fazer das exportações o novo carro-chefe da economia nacional.