Brasileiros da InBev agem para controlar 1/3 da cerveja do mundo
Multinacional, que é líder global, avisou à vice-líder SABMiller, que fará proposta de aquisição
Negócio teria pouca sobreposição e criaria império do setor, mas pode enfrentar restrições de órgãos reguladores
A Anheuser-Busch InBev, líder mundial em cervejas que tem como principal acionista o brasileiro Jorge Paulo Lemann, quer tomar o controle da SABMiller, em uma transação que criaria uma empresa de US$ 275 bilhões que responderia por uma em cada três garrafas de cerveja produzidas no planeta.
A intenção foi comunicada à SABMiller, vice-líder global, mas a proposta não foi formalizada. Se efetuada, será uma das maiores tomadas de controle acionário da história.
Na avaliação da agência de classificação de crédito Fitch, a fusão "criaria uma força mundial", aumentando a distância para os rivais Heineken e Carlsberg e dando acesso a mercados de alto crescimento, com pouca sobreposição de mercado.
A iniciativa do brasileiro Carlos Brito, presidente-executivo da AB InBev, segue os passos de Lemann, que tem 12,5% do grupo e foi o responsável por levar a Brahma à posição de líder mundial, após 25 anos de audaciosas tomadas de controle acionário.
Em média, a companhia sediada na Bélgica fez uma grande aquisição a cada quatro anos, especialmente a tomada de controle da Anheuser-Busch, dos EUA, fabricante da Budweiser, por US$ 52 bilhões em 2008. Há três anos, comprou o Grupo Modelo, no México, por US$ 20 bilhões –e pagou a dívida contraída para realizá-la mais rápido que o previsto.
RISCOS À FRENTE
Questões competitivas, grandes diferenças de cultura entre as duas empresas e incertezas quanto às associações da SABMiller dividem as opiniões dos analistas, dos financistas e dos observadores do setor em relação à "Megabrew" [Megacerva], apelido dado à eventual fusão.
A região de crescimento de vendas mais rápido é a África, que é tanto o coração das operações da SABMiller –seu nome original era South African Breweries– quanto um continente no qual a AB InBev tem presença nula.
Embora a AB InBev tenha 20% do mercado do planeta, 70% das vendas estão nas Américas. Na América do Norte, a AB InBev encontrou dificuldade para aumentar as vendas de sua principal marca, a Budweiser. Na América Latina, as vendas em alguns dos maiores países, como o Brasil, desaceleraram.
Uma união com a SABMiller daria ao grupo acesso a mercados sul-americanos nos quais ela não está, como Colômbia, Equador e Peru.
Por outro lado, analistas acreditam que o Departamento da Justiça dos EUA deve obrigar a SAB a vender sua participação na MillerCoors, nos Estados Unidos, e o novo grupo teria que abrir mão dos 49% da SAB em uma associação que opera na China.
A maior incerteza, no entanto, é a África, onde a SAB se associou à Castel, da França. A AB InBev precisará garantir um acordo com Pierre Castel, 89, líder da companhia de capital fechado.
Outro complicador é que a SABMiller é a maior engarrafadora da Coca-Cola no mundo, enquanto a AB InBev tem acordos com a rival PepsiCo.
Uma união tornaria impossível manter os dois –o novo grupo provavelmente favoreceria a Coca, já que Warren Buffett, acionista da fabricante de refrigerantes, é coinvestidor de Lemann no 3G, o grupo brasileiro de capital privado que controla companhias como Kraft e Heinz.