Tunísia elege partido laico para liderar Parlamento
Apesar de derrota, islamitas devem fazer parte de governo de coalizão
Berço da Primavera Árabe, país foi o mais bem-sucedido na transição para o regime democrático
Berço da Primavera Árabe, a Tunísia elegeu um partido secular (não religioso) para encabeçar seu Parlamento pelos próximos cinco anos.
O Nidá Tunísia ("Chamado da Tunísia") conquistou 37% dos 217 assentos da casa, segundo o instituto de pesquisa Mourakiboun. Já o partido islamita moderado Nahda ("Renascimento"), outra importante força política do país, conseguiu 28%.
Mesmo antes do pronunciamento oficial da comissão eleitoral, o Nahda admitiu a derrota. A comissão eleitoral tem até 30 de outubro para anunciar dados definitivos.
O partido com maioria no Parlamento tem direito a formar um novo governo. A expectativa é que Nidá e Nahda formem uma coalizão.
"Seja qual for o primeiro colocado, a Tunísia precisa de um governo de coalizão nacional e de uma política de consenso. Esse direcionamento foi o que salvou nosso Estado de viver o que os demais países da Primavera Árabe estão passando", disse no domingo (26) Rached Ghanuchi, líder do Nahda.
O Nidá possui formação heterogênea, contando tanto com políticos de esquerda e de centro-direita como antigas figuras do regime de Ben Ali, ditador deposto pelas manifestações de rua que deram origem à Primavera Árabe em 2011.
Eleições presidenciais estão marcadas para o fim de novembro. O líder do Nidá, Beji Caid Esebsi, 87, é um dos favoritos na disputa. O Nahda não apresentou candidatos para o cargo.
A Tunísia é vista como o exemplo mais bem-sucedido da Primavera Árabe, comparada aos outros países que fizeram parte do movimento.
No Egito, por exemplo, militares derrubaram e prenderam o presidente eleito Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, em 2013.
A Líbia vive uma situação de anarquia desde a queda do ditador Muammar Gaddafi, e milícias radicais islâmicas dominam grandes cidades do país.
Já a Síria testemunha uma longa guerra civil, que já deixou mais de 190 mil mortos, segundo a ONU, e 3 milhões de refugiados.
EUA, Espanha, França e outros países elogiaram as eleições na Tunísia, que transcorreram tranquilamente sob um esquema de segurança que mobilizou cerca de 80 mil policiais e militares.
Também Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, felicitou o país. "Essas eleições são um passo crucial para o futuro da Tunísia e representam uma virada para a transição."
PARTICIPAÇÃO
Cerca de 62% dos eleitores tunisianos comparecerem às urnas, ou 3,1 milhões de pessoas. O voto não é obrigatório. A presença foi menor do que nas eleições constituintes de 2011, quando 4,3 milhões de tunisianos elegeram o Nahda para liderar um governo de transição para a democracia.
O partido se afastou do poder no fim de 2013, para dar lugar a um governo tecnocrata provisório que organizasse as eleições nacionais.
Alguns observadores já esperavam baixa participação. Muitos tunisianos se mostram apáticos e desapontados com a política, frente à estagnação econômica pela qual passa o país e o surgimento de grupos jihadistas.