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Quer almoçar?
Com este convite, jovem atraiu amigos e atirou neles num refeitório dos EUA, matando dois; era um dos mais populares da escola
Em meados de outubro, Jaylen Fryberg, 15, havia sido escolhido príncipe do baile de outono da escola secundária Marysville-Pilchuck, a 54 km de Seattle, nos EUA.
Descendente de indígenas da tribo Tulalip, o jovem participava do time de futebol americano da escola e era popular entre seus colegas.
Mas não estava feliz. Pouco antes, havia terminado com sua namorada e exibiu sua frustração no Twitter.
"Isso não ia durar, nunca iria durar e eu deveria ter escutado. Vocês estavam certos: estavam certos o tempo inteiro", disse no microblog.
Na última sexta (24), ele chamou três amigos e dois primos para almoçar no refeitório da escola. Todos se sentaram na mesma mesa, ele com uma mochila preta.
Em seguida, Jaylen se levantou, abriu a mochila e sacou uma arma Beretta calibre.40, que, segundo a polícia, pegou de algum parente, e baleou os cinco amigos.
O crime mais uma vez chocou os EUA, traumatizados por episódios de massacres cometidos em escolas.
Segundo a CNN, o jovem só foi parado por uma professora, que o agarrou por trás. Ele então se suicidou.
Os disparos mataram duas meninas --Zoe Galasso, 14, e Gia Serrano, 14. Outra adolescente, Shaylee Chuckulnestit, 14, está internada em estado grave.
Os dois primos de Jaylen, Andrew Fryberg, 15, e Nate Hatch, 14, foram feridos, mas estão fora de perigo. Pouco antes, o atirador havia enviado uma foto à ex-namorada com a arma que usou.
A polícia ainda não sabe se o fim da relação pode ter levado ao crime ou qualquer dos motivos para que Jaylen tenha feito o ataque. Os agentes analisarão mensagens para amigos e a ex, além de registros nas redes sociais.
O mistério aumenta especialmente porque o popular Jaylen está longe do perfil dos autores de ataques a escolas americanas, que geralmente tinham problemas psicológicos ou sofriam bullying.
HOMENAGEM
Assim como as causas são incomuns nesse tipo de caso, a reação das vítimas, dos colegas de Jaylen e de seus familiares também é inusitada. Muitos demonstram compaixão pelo atirador.
A começar de uma das vítimas, Nate Hatch.
Baleado na mandíbula por Jaylen, seu primo, ele nunca mais poderá jogar futebol americano, uma de suas paixões. "Esta é a maior dor que senti em toda a minha vida", disse, no Twitter.
Mesmo assim, desculpou o primo que o poderia ter matado. "Amo você e te perdoo. Descanse em paz, Jaylen".
Na segunda (27), alguns alunos se reuniram por volta das 10h30 (15h30 em Brasília), em frente a um memorial para as vítimas da tragédia. Dentre elas, estavam as fotos e o nome de Jaylen.
Para Alex Pietsch, veterano do atirador na escola, o crime é muito estranho, especialmente porque o atirador era bastante popular.
"Você nunca o via tão irritado e tão chateado. Quando cheguei ao carro da minha mãe, eu achei que isso não estava acontecendo. Estava surpreso que, no meio de tanta gente, seria ele".
Segundo especialistas, a reação da comunidade ao ataque foi única, especialmente em um país em que esse tipo de ataque é comum.
"Normalmente há tanta raiva, frustração e perplexidade que não permitem que se tenha amor ao atirador", disse Carolyn Reinach Wolf, pesquisadora que estuda ataques em massa.
"Essa foi uma resposta bem diferente. O crédito de boa parte disso é da própria comunidade: pessoas que são capazes de manter o luto, mas perceber que a família do atirador está de luto e tão horrorizada quanto eles."