Detento ficou 47 dias isolado antes de interrogatório
Um dos casos emblemáticos para explicar o funcionamento do programa de detenções e interrogatórios perpetrado pela CIA é o do membro da Al Qaeda Abu Zubaida.
Sua prisão e as torturas a que foi submetido são o assunto de 31 páginas no relatório do comitê do Senado.
Zubaida foi capturado em março de 2002 no Paquistão. Ferido a bala, foi internado e interrogado conjuntamente pelo FBI e pela CIA ainda no hospital. De acordo com o relatório, o prisioneiro era cooperativo e forneceu algumas informações aos agentes.
Em abril daquele ano, foi transferido para uma prisão na Tailândia. A partir daí, a CIA recomendou o total isolamento do prisioneiro por semanas "como forma de mantê-lo desequilibrado."
Em 4 de agosto de 2002, depois de passar 47 dias isolado, Zubaida começou a ser interrogado com o uso dos métodos de tortura, cuja aprovação pelo governo havia sido recebida no dia anterior.
Por 17 dias, foi submetido a perguntas 24 horas por dia, espancado, colocado dentro de uma caixa com as dimensões de um caixão e submetido a simulações de afogamento até engasgar, vomitar e ter "espasmos involuntários."
Durante esse período, ele foi colocado 83 vezes na água de cabeça para baixo e passou quase 300 horas dentro de caixas. Segundo os registros da CIA, chorou, implorou para que a tortura parasse por diversas vezes e negou que tivesse mais informações.
Os documentos revelam também que agentes da CIA demonstraram preocupação sobre a legalidade dos métodos utilizados. Alguns deles mostraram propensão a pedir transferência do local.
Ao ter acesso aos relatos, o então chefe do Centro de Contraterrorismo, José Rodriguez, teria respondido: "Peço firmemente que qualquer linguagem especulativa sobre a legalidade das atividades ou (...) julgamentos a respeito delas sejam contidos".
Conforme o relatório, entre a captura de Zubaida, em 2002, e sua transferência à custódia do Departamento de Defesa dos EUA, em 2006, as informações fornecidas por ele geraram 766 relatórios de inteligência. Mas nenhum deles continha informações sobre planos de futuros ataques aos EUA.