Moradores não temem os seus novos vizinhos
Uma vizinha espia pela janela o movimento incomum na tranquila rua do bairro de Palermo, em Montevidéu, enquanto a atendente da padaria confidencia a uma cliente o motivo do tímido alvoroço: é na casa da esquina que vivem agora os seis ex-prisioneiros de Guantánamo que chegaram ao país.
É no casarão antigo de três quartos e amplo pátio interno, cedido por um sindicato de trabalhadores, que eles devem ficar nos próximos dois ou três meses, até que se adaptem e tragam familiares ao país.
Curiosa, a vizinhança já coleciona informações sobre os novos moradores. "Eles vieram aqui ontem [quinta]: compraram queijo, pão, mate e Coca-Cola light", diz María Martinez, 37, gerente da padaria.
Patrícia Requina, 48, que mora no andar de baixo da casarão, se surpreendeu por eles parecerem "gente normal". "Nem parece que sofreram aquilo tudo [em Guantánamo]."
Apesar de os vizinhos terem sido pegos de surpresa com a chegada, o clima geral é de boas-vindas aos agora refugiados, independentemente de seu passado. "Só sabemos que um deles tinha ligação com a Al Qaeda. Mas o que temos a ver com isso?", questiona Ramón López, 62, que conserta bicicletas numa loja em frente há 34 anos.
Para López, se o presidente José Mujica disse que o grupo não traz risco, "não há por que duvidar".
O bar em frente e a "batucada" que ocorre todo sábado duas ruas abaixo ajudarão o grupo a se ambientar, aposta o funcionário público Leonardo Miles, 51. "Este é o bairro mais alegre do Uruguai."