Arábia Saudita julga por terrorismo duas mulheres que dirigem
Elas estão presas há um mês por terem desafiado a restrição do governo local a motoristas do sexo feminino
Governo cria barreiras para mulheres tirarem habilitação; campanha vê tentativa de controle de fundo machista
Duas mulheres devem ser julgadas numa corte de terrorismo da Arábia Saudita por terem dirigido carros e opinado em redes sociais, segundo pessoas próximas às rés. A decisão foi tomada nesta quinta-feira (25).
Loujain al-Hathloul, 25, e Maysa al-Amoudi, 33, foram presas por dirigir sem habilitação, já que a ultraconservadora lei saudita impõe barreiras a mulheres que queiram se tornar motoristas.
Tecnicamente, o julgamento, segundo seus amigos que falaram sob anonimato, será por opiniões que deram nas redes sociais.
Nenhuma autoridade saudita se manifestou.
Al-Hathloul foi presa em 1º de dezembro, um dia depois de publicar no YouTube um vídeo em que atravessava dirigindo a fronteira entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes. Tanto ela quanto Amoudi passaram um mês detidas, e seus parentes só puderam vê-las em visitas guiadas. Nunca antes mulheres motoristas ficaram presas por tanto tempo.
Segundo ativistas, também será a primeira vez que mulheres motoristas serão julgadas no Tribunal Criminal Especializado de Riad, criado para analisar casos de terrorismo mas também usado para julgar casos de dissidentes pacíficos e ativistas.
A Human Rights Watch já alertou que "autoridades sauditas estão fechando o cerco contra pessoas que criticam pacificamente o governo na internet".
Segundo eles, usa-se "provisões vagas de uma lei contra crimes cibernéticos de 2007 para julgar cidadãos sauditas por tuítes e comentários nas mídias sociais".
Ao serem presas, Hathloul e Amoudi tinham, juntas, mais de 355 mil seguidores no Twitter. Eram apoiadoras de uma campanha lançada em 2013 para se opor à proibição às mulheres no volante.
Apoiadores da campanha fizeram neste mês um abaixo pedindo que o rei Abdullah perdoe as duas rés.
Segundo os organizadores da campanha, as barreiras para a habilitação de motoristas mulheres ilustram questões legais mais amplas na Arábia Saudita, que dão mais poder aos homens sobre a vida das mulheres.