China reforça sua presença no 'quintal dos EUA' em fórum
Maduro diz ter fechado acordos de US$ 20 bi
A primeira conferência do Fórum Celac-China, que começa em Pequim nesta quinta (8), é mais que um novo movimento de aproximação entre China e América Latina. Para analistas, consolida a presença chinesa em região tradicionalmente vista como área de influência dos EUA.
Na noite desta quarta (7) o líder chinês, Xi Jinping, recebeu em banquete representantes dos 33 membros da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), entre eles o novo chanceler do Brasil, Mauro Vieira.
O fórum foi criado no ano passado, por iniciativa de Pequim. Para Matt Ferchen, professor da Universidade Tsinghua (Pequim), a entidade institucionaliza as relações e mostra que o interesse da China vai além dos negócios.
Alavancadas pelo apetite chinês por matérias-primas, as relações comerciais com a AL cresceram quase nove vezes de 2003 a 2013 (US$ 29 bilhões para US$ 259,6 bilhões).
A reunião do fórum, porém, ocorre num momento em que o boom das commodities é passado. Em parte por causa da desaceleração chinesa, a demanda global caiu, e com ela os preços de matérias-primas como petróleo.
Diante do agravamento da crise em seu país, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, veio a Pequim em busca de novos empréstimos. Nesta quarta, após reunir-se com Xi, ele anunciou acordos no valor de US$ 20 bilhões.
Maduro disse, porém, que é "impossível" saber se o montante será suficiente para o país suportar a crise até que o petróleo volte a subir.
A crise venezuelana impõe um dilema à China, que hesita em conceder mais crédito a um país sob risco de moratória, mas teme ter mais prejuízo se houver um colapso.
"Quando alguém cai num poço, não podemos jogar uma pedra, temos que salvá-lo", diz Jiang Shixue, da Associação Chinesa de Estudos Latino-Americanos, indicando que Pequim continuará dando crédito ao maior aliado latino-americano, mesmo que endureça as condições.
Jin Canrong, da Universidade Renmin (Pequim), afirma que os EUA tiveram de rever sua política para a América Latina, incluindo Cuba, por causa da China. Jiang concorda, mas diz que o interesse chinês é sobretudo econômico. "Não há intenção de desafiar a posição dos EUA."