Terror islâmico ameaça pleito na Nigéria
Violência do Boko Haram a um mês de eleições presidenciais deve impedir voto de nigerianos em áreas de conflito
Pior cenário está no nordeste do país, onde radicais podem ter matado até 2.000 em uma série de ataques
A um mês das eleições legislativas e presidenciais, a Nigéria, maior economia e país mais populoso da África, enfrenta uma onda de violência sem precedentes perpetrada pelos militantes islâmicos do grupo Boko Haram.
O último grande ataque dos radicais, entre os dias 3 e 7 deste mês, ocorreu na cidade de Baga, na fronteira com Camarões e Chade.
O governo diz que 150 militares e civis foram mortos, mas alguns veículos de imprensa e a Anistia Internacional estimam até 2.000 vítimas, o que seria o maior massacre do Boko Haram em seis anos de combate para formar um Estado sob a sharia (lei islâmica) no nordeste do país.
A Anistia anunciou que divulgaria nesta quinta (15) imagens de satélite detalhando a destruição em Baga. Em nota, o Itamaraty repudiou o ataque e adotou a estimativa de 2.000 mortos.
Diante das investidas cada vez mais sangrentas do Boko Haram, a insegurança se tornou tema central da campanha eleitoral. Cristão, o presidente Goodluck Jonathan, 57, disputa a reeleição em 14 de fevereiro contra o muçulmano ex-ditador Muhamadu Buhari, 72, candidato pela quarta vez.
A Comissão Eleitoral Independente alertou nesta terça-feira (13) ser pouco provável que as eleições sejam realizadas nas zonas controladas pelo Boko Haram.
Os resultados da eleição --que os especialistas descrevem como a mais disputada desde a volta da democracia, há 16 anos-- podem ser impugnados caso milhares de cidadãos sejam impedidos de exercer o seu direito de voto.
Jonathan, que governa a Nigéria desde a morte de seu antecessor, Umaru Yar Adua, em 2010, é muito criticado por não ter conseguido deter a insurreição islâmica, que causou mais de 13 mil mortes de 2009 para cá.
Em um país que no ano passado se tornou a maior economia da África, graças a uma mudança importante no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), mas onde metade dos 178 milhões de habitantes vive na pobreza, Jonathan não pode contar com o desempenho econômico para garantir a reeleição.
O general reformado Buhari afirma ter travado uma guerra contra a indisciplina em sua breve passagem pela Presidência como líder da junta militar entre 1983 e 1985 e é visto como empenhado no combate à corrupção.
Nenhuma pesquisa independente permite avaliar a popularidade dos dois candidatos. No entanto, para vários especialistas, a frente opositora Congresso Progressista, de Buhari, tem chances de derrubar o governista Partido Democrático do Povo, no poder desde 1999.
A oposição aposta em vitória em três cidades-chave: Lagos, a capital econômica; a cidade petroleira de Port Harcourt, no sul; e Kano, maior cidade do norte.