Quadro do Haiti pode piorar rápido, diz ONU
Comandante de tropas da Minustah diz que situação é 'volátil' após dissolução do Parlamento e em meio a protestos
General brasileiro diz que qualquer mudança no plano de redução das tropas será definida por Conselho de Segurança
A situação do Haiti, após a dissolução do Parlamento nesta semana, é "volátil" e "pode se deteriorar rapidamente". A avaliação é do comandante da Missão da ONU para a Estabilização no Haiti (Minustah), o general brasileiro Jose Luiz Jaborandy Júnior.
"A dissolução do Parlamento tem concorrido para o aumento das manifestações, tanto pró-governo como aquelas da oposição, em Porto Príncipe. A situação permanece frágil e volátil, podendo se deteriorar rapidamente", disse o militar à Folha, por e-mail.
Segundo o comandante, os protestos não raramente começam pacíficos e terminam com ações violentas, que são contidas pela Polícia Nacional do Haiti. Imagens feitas por agências de notícias mostram manifestantes atingidos por balas de borracha.
Apenas se forem convocadas pela polícia local --e em último caso--, as tropas da ONU atuarão para conter os protestos, segundo o general.
O brasileiro evita opinar se a situação de instabilidade política pode adiar os planos de reduzir as tropas da ONU --hoje com 4.763 militares, sendo 1.377 brasileiros-- no país.
Uma resolução de outubro do Conselho de Segurança determinou a redução das tropas de 5.021 militares para 2.370 neste ano. No caso da força brasileira, a diminuição em 2015 seria de quase 30%, para 970 militares.
"A redução está condicionada à situação de segurança do país, assim como às considerações do próximo relatório do secretário-geral da ONU", disse o comandante. "O plano está traçado e a sua implementação, ou não, será decidida em março [pelo Conselho de Segurança]."
O Parlamento do país foi dissolvido após seu mandato chegar ao fim, na última terça-feira (13).
O presidente Michel Martelly diz ter tentado aprovar um projeto que estenderia os mandatos dos parlamentares até abril, para que uma lei eleitoral fosse aprovada e um conselho eleitoral, nomeado. O Haiti não realiza eleições legislativas ou municipais há mais de três anos.
A oposição, porém, acusa Martelly de não tentar realmente um acordo, e, com isso, forçar a dissolução do Congresso para governar por decreto.
Uma das primeiras ações do presidente foi garantir a posse, nesta quinta (15), do novo premiê, Evans Paul, apontado por ele, mas não aprovado pelo Congresso.
Na terça, um grupo que inclui diversos países, entre eles Brasil e EUA, "deplorou" o fato de o Congresso haitiano ter se tornado "disfuncional" e manifestou apoio a Martelly.
A dissolução do Parlamento ocorre na semana em que o país lembra os cinco anos do terremoto que matou mais de 220 mil pessoas.