Caso é um ponto de inflexão, diz organizador de ato
A morte de um promotor é um ponto de inflexão na história recente da Argentina, afirma o promotor-geral da Câmara Nacional de Apelações e Criminal, Ricardo Sáenz. Ele é um dos organizadores de uma marcha nesta quarta (18), dia em que se completa um mês da morte de Alberto Nisman.
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Folha - Qual é o propósito da manifestação?
Ricardo Sáenz - É uma homenagem ao promotor Alberto Nisman, cuja morte não recebeu uma mensagem de condolência dos porta-vozes do governo, como já foi feito em outras ocasiões a cantores populares que se pronunciavam a favor do oficialismo. Ele não merecia isso.
Acredita que as pessoas comuns vão aderir?
Estamos vendo uma repercussão nas redes sociais que leva a crer que o cidadão comum vai à marcha. Gente que entende que a morte de Nisman é um fato muito preocupante. É uma morte política e violenta de um promotor que havia denunciado o governo. É muito grave.
O senhor acredita que Nisman foi assassinado?
Não sabemos, mas não há dúvida de que ele surgiu com disparo na cabeça pela denúncia que fez.
O governo reagiu mal à marcha e acusa promotores de terem atrapalhado investigações de Nisman no passado. O que pensa?
É uma lógica de amigo e inimigo que não beneficia em nada a sociedade e muito menos o Poder Judiciário. Os que tentam atacar os organizadores querem, na verdade, atacar a manifestação, deslegitimar o protesto. Mas eles não estão conseguindo.
A manifestação agrava a divisão na Argentina?
Não acreditamos. Convocamos esse ato como homenagem a um promotor que morreu fazendo seu trabalho e acreditamos que muitas pessoas vão aderir com esse espírito.
Mas o governo afirma que o ato é contra o governo.
O governo diz que o que fazemos é golpismo. Não tem sentido. Dizem que os promotores que organizam a manifestação estão investigando casos contra o governo, corrupção. Bom, é nosso trabalho.
Políticos de oposição confirmaram presença. Esse protesto pode se transformar em um ato político?
A morte de Nisman teve, em alguma medida, um componente político. Há 31 anos estamos num regime democrático. Houve algumas mortes duvidosas nesse período, mas a morte de um promotor dessa maneira é um ponto de inflexão. É contra isso que temos que nos manifestar.