Opositor é enterrado sob gritos de 'Rússia sem Putin'
Nemtsov, 55, foi morto na sexta-feira (27) em ponte a 200 metros do Kremlin
Quatro dias após crime, não há informações sobre possível suspeito; opositores acusam governo Putin por morte
Sob gritos de "Rússia sem Putin", o corpo do oposicionista Boris Nemtsov, 55, foi enterrado nesta terça-feira (3) em Moscou. Adversário do presidente Vladimir Putin, Nemtsov foi morto na sexta-feira (27) em uma ponte a 200 metros do Kremlin.
Polônia e Letônia acusaram a Rússia de ter negado o visto para que suas autoridades participassem da despedida em retaliação às sanções relacionadas ao conflito na Ucrânia. O presidente do Parlamento europeu, Martin Schulz, considerou o episódio uma "afronta" e avisou que pediria explicações.
Quatro dias depois do crime, não há, por enquanto, informação sobre quem seria o autor dos quatro disparos que mataram Nemtsov.
Quando o caixão deixou o salão do Centro Sakharov rumo ao cemitério, a multidão, que formara uma fila de 1 km do lado de fora, se espremeu e começou a gritar: "Rússia sem Putin" e "Rússia será livre". Ao tentar dispersá-la, a polícia ouviu uma provocação: "FSB, fora!". FSB é o Serviço de Segurança Federal, que substituiu a antiga KGB.
"É uma grande tragédia para Rússia. Queremos um país livre, que as pessoas levem uma vida normal", disse a estudante Lisa Chumachenko, 26, ao lado da mãe.
Um microfone foi colocado à frente do caixão para discursos. Fotos de Nemtsov, vice-premiê de Boris Ieltsin entre 1997 e 1998, eram projetadas nas paredes e um telão transmitia imagens dele.
Os aliados de Nemtsov têm apostado que as autoridades russas tentarão desvincular o crime de motivação política. Eles acusam Putin de incitar a perseguição aos adversários sob o discurso de que são traidores da pátria.
Cumprindo uma sentença de 15 dias de detenção, Alexei Navalny, outro líder de oposição, afirmou que Putin e seu governo são responsáveis pelo assassinato.
O presidente russo condenou o crime e prometeu uma investigação séria. Seu governo enviou ao velório o vice-premiê Arkady Dvorkovich, que chegou ao local com um buquê de flores vermelhas.
Amigo de Nemtsov, o opositor Gennady Gudkov afirmou que o político foi vítima de uma "atmosfera de ódio": "Os tiros foram disparados não só contra Nemtsov, mas contra todos nós, a democracia na Rússia".
Apesar de não ser uma ameaça de poder a Putin, Nemtsov se destacava pelo carisma e o tom agressivo. Horas antes de morrer, chamou o presidente de "mentiroso" em uma rádio. Em 2011, passou duas semanas preso pelos protestos em Moscou. "Temo que Putin me mate", dizia.