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Acordo limita programa nuclear do Irã
Acerto provisório com potências prevê redução de enriquecimento de urânio, o que impediria Teerã de fabricar bomba
Sanções ocidentais serão suspensas se tudo for cumprido; prazo para se chegar a um pacto definitivo é 30 de junho
A maratona que envolveu Irã, EUA e mais cinco potências em negociações intensas nos últimos oito dias na Suíça terminou com o anúncio, nesta quinta-feira (2), de um acordo parcial para limitar o programa nuclear iraniano, com um controle sobre as atividades atômicas de Teerã por ao menos 25 anos.
Como contrapartida, EUA, Europa e as Nações Unidas retirarão as sanções ao Irã relacionadas ao programa, algo que os iranianos sempre almejaram. Isso só ocorrerá, no entanto, depois que a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) confirmar que o país cumpre os pontos acordados.
Alcançado dois dias após a data prevista, o entendimento foi classificado como "histórico" pelo presidente americano, Barack Obama. Foi o primeiro avanço prático nas negociações, que já duram 18 meses.
"Se totalmente implementado, [o acordo] vai evitar que o país [Irã] obtenha armas nucleares", afirmou Obama, em discurso na Casa Branca.
Os pontos principais anunciados servirão de base para a criação de um acordo final, cujo prazo é 30 de junho.
Discutido ao lado de Reino Unido, Alemanha, França, China e Rússia, o acordo impõe diversas restrições à capacidade do Irã de enriquecer materiais que podem ser usados tanto para a produção de energia como para a fabricação de bombas nucleares.
De acordo com documento do Departamento de Estado americano, o Irã concordou em reduzir o número de centrífugas hoje instaladas no país em dois terços, de cerca de 19 mil para 6.104. Dessas, só 5.060 poderão enriquecer urânio pelos próximos dez anos.
O país tampouco poderá enriquecer urânio a um nível acima de 3,67% (utilizado para produzir energia) por pelo menos 15 anos. Para a fabricação de uma bomba atômica, o percentual necessário é de 90%.
A manutenção de parte do programa nuclear iraniano, para pesquisa e produção de energia, era uma das exigências do governo de Teerã, que reiterou por diversas vezes que deveria ser tratado com "respeito" nas negociações.
FESTA IRANIANA
O fim das sanções, se confirmado, será crucial para a economia iraniana. Por isso, foi comemorado nas ruas de Teerã nesta quinta, com direito a buzinaço. De forma inédita, o pronunciamento de Obama foi transmitido pela TV estatal do país.
"Nosso programa é exclusivamente pacífico, sempre foi e continuará assim", disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, em Lausanne. "Vamos continuar a enriquecer [materiais]. Vamos manter a pesquisa e o desenvolvimento."
Mas Obama deixou claro que o acordo terá como base a vigilância "sem precedentes" do Irã, cujas atividades nucleares serão monitoradas por ao menos 25 anos.
"Se o Irã trapacear, o mundo saberá", disse o americano. Ele também se antecipou a críticas do Congresso americano, dominado pela oposição republicana, e do principal crítico do acordo, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu.
"Vocês realmente acreditam que esse acordo verificável, apoiado pelas maiores potências mundiais, é uma opção pior que o risco de outra guerra no Oriente Médio?", questionou.
Em telefonema com Obama, Netanyahu disse que o pacto com o Irã ameaça a sobrevivência de Israel.
Obama também ligou para o rei saudita, Salman, a quem transmitiu o convite a líderes árabes para que discutam, nos EUA, a questão iraniana e demais conflitos da região.