Exigência da Venezuela barra comunicado final
A Venezuela bloqueou o documento final da Cúpula das Américas, frustrando a expectativa de um encontro de união do hemisfério após o fim do isolamento de Cuba. Será a terceira cúpula consecutiva sem um comunicado final por falta de consenso.
Nas outras reuniões, a participação de Cuba, exigida pela maioria dos países e rejeitada pelos EUA, era o obstáculo. Desta vez, o problema foi a insistência de Venezuela, apoiada por aliados, em incluir no preâmbulo do documento uma condenação às sanções impostas pelos EUA a autoridades venezuelanas.
O governo brasileiro minimizou a ausência de documento final dizendo que isso não anula o caráter histórico da cúpula, segundo a Folha apurou.
Durante a reunião de chanceleres, o Brasil não apoiou a reivindicação da Venezuela de incluir a crítica aos EUA no documento. "A Venezuela pôs um bode na sala", afirmou uma pessoa que acompanhou as negociações.
O documento final só pode ser aprovado com apoio unânime. Os países, então, recorreram a uma solução improvisada - será divulgado um relatório do presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, chamado de "chair's summary", que reúne só posições em que há acordo e sem a força de um documento final.
"Foi a solução possível, já que não havia consenso", disse o chanceler brasileiro, Mauro Vieira.
Nos últimos dias, os EUA fizeram gestos conciliatórios. Na quarta (8), Thomas Shannon, assessor especial do secretário de Estado, John Kerry, esteve em Caracas para se reunir com autoridades venezuelanas.
Um dia antes, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Ben Rhodes, disse que o país não via a Venezuela como ameaça.
Mas os venezuelanos não recuaram. "Exigimos que se incluísse no documento o pedido de revogação do decreto imperial dos EUA. Queremos que acabe toda forma de imperialismo e colonialismo", declarou a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez.
Na Jamaica, o presidente dos EUA, Barack Obama, que chega ao Panamá nesta sexta (10), disse que o Departamento de Estado completou a revisão da lista de Estados que patrocinam terrorismo, mas ainda não emitiu recomendação.
Cuba está nessa lista, o que acarreta várias restrições. Depois de fazer a revisão, o Departamento de Estado recomendará ao presidente retirar ou manter os cubanos. A retirada é a principal reivindicação de Cuba para avançar na normalização das relações com os americanos.