Diplomata que auxiliou boliviano a fugir recebe suspensão de 20 dias
Eduardo Saboia retirou ex-senador Roger Molina de embaixada em La Paz sem ouvir Itamaraty
Ciente na véspera de pena mais leve do que poderia ter recebido, Saboia celebra com Molina em churrascaria
A fuga do ex-senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil resultou na suspensão por 20 dias do diplomata Eduardo Saboia, responsável pela operação que retirou o político da embaixada brasileira em La Paz, em 2013.
A punição, mais leve do que poderia ter sido, foi publicada em boletim interno do Itamaraty nesta sexta (10).
De acordo com a legislação, Saboia poderia receber uma advertência, suspensão por até 90 dias ou demissão do funcionalismo.
O episódio gerou um incidente diplomático, irritou o Palácio do Planalto, resultou na demissão do então chanceler Antonio Patriota e motivou a abertura de uma sindicância para apurar a conduta do servidor.
O relatório do grupo estava pronto desde abril do ano passado, mas a possibilidade de um novo desgaste em ano sensível, de campanha eleitoral, adiou a decisão.
Um ano e oito meses depois do episódio, ela foi publicada pelo ministério.
O resultado da sindicância foi criticado pela defesa do diplomata. "Ele atuou no sentido de salvar uma vida. Foi uma atuação humanitária em todos os aspectos e continuamos a entender que está sendo injustiçado", disse o advogado Ophir Cavalcante.
Molina foi trazido ao país após permanecer 453 dias enclausurado na representação brasileira em La Paz.
Nesse período, o governo de Evo Morales se recusou a conceder salvo-conduto para a retirada do político opositor. Saboia alega que alertou o Itamaraty diversas vezes que a situação estava em "franca deterioração", como afirmou à Folha na época.
O advogado do diplomata disse que ainda cabe recurso de Saboia ao ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores). "Isso terá que ser avaliado, e a decisão cabe a ele [Saboia]."
Molina também criticou a decisão final, mas reconhece que o saldo foi positivo.
"Acho uma maneira estranha de fazer homenagem a um herói nacional. [Mas foi] a maneira mais barata de ter um herói. Em outro país dariam uma medalha para ele", disse à Folha.
CHURRASCARIA
Na noite de quinta-feira (10), Saboia já estava a par do resultado da sindicância.
Apesar de o advogado dele ter criticado o parecer do ministério, Saboia e Molina se reencontraram na quinta em uma churrascaria de Brasília para comemorar o desfecho do caso, com direito a registrar o jantar com fotos.
Ainda não há data definida para o início da suspensão, que começa a valer a partir de publicação de portaria. Durante o período, Saboia fica sem receber a remuneração como diplomata --a punição também pode ser convertida em multa.
Atualmente, Saboia está lotado no Departamento de Assuntos Financeiros do Itamaraty. Recentemente, foi convidado para ser assessor da comissão de Relações Exteriores no Senado, mas aguarda liberação oficial do ministério. Então chefe do posto em La Paz, o embaixador Marcel Biato continua lotado na sede do Itamaraty. Ainda não foi aprovada a indicação de um novo chefe para a embaixada na Bolívia.