Brasil indica embaixador na OEA após posto ficar vago por 4 anos
Guilherme Patriota, irmão do ex-chanceler Antonio Patriota, tem de passar por aval do Senado
Governo Dilma rompeu com organização em 2011, após comissão pedir suspensão das obras de Belo Monte
O Palácio do Planalto indicou o nome do embaixador Guilherme Patriota, irmão do ex-chanceler e atual embaixador do Brasil na ONU, Antonio Patriota, para chefiar a missão na OEA (Organização dos Estados Americanos), em Washington.
O posto está vago desde 2011, quando o governo brasileiro convocou de volta o então representante do país na OEA, o embaixador Ruy Casaes, em retaliação à decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) de pedir a interrupção das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
Na época, a CIDH emitiu uma medida cautelar para forçar o governo brasileiro a suspender as obras da usina, alegando irregularidades no processo de licenciamento ambiental que poderiam causar impacto sobre indígenas.
O nome de Guilherme Patriota, 56, foi enviado ao Senado, e ele ainda precisa passar por sabatina na Comissão de Relações Exteriores da Casa antes de ser aprovado.
Segundo a Folha apurou, o "timing" do governo brasileiro para o envio de um novo representante está relacionado à volta do diálogo da OEA com Cuba, consolidado na última Cúpula das Américas, realizada no Panamá.
A ilha, excluída da OEA em 1962, teve seu retorno autorizado ao bloco em 2009. O regime, contudo, não tinha demonstrado, até então, disposição em retornar ao sistema interamericano.
Na última cúpula, após o início da retomada das relações com Washington, Havana aceitou o convite do país anfitrião, e o ditador Raúl Castro participou da reunião de chefes de Estado.
A indicação também vem após a eleição do novo secretário-geral da OEA, o ex-chanceler uruguaio Luis Almagro, que assume em 26 de maio. Almagro teve o apoio do Brasil desde o início de sua candidatura.
O Planalto quer agora que o nome de Patriota seja aprovado o quanto antes, para aproveitar essa "onda positiva" na OEA --e talvez já estar representado por um embaixador na posse de Almagro.
O embaixador foi braço-direito do assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, nos governos Lula e Dilma, e tem a confiança da presidente.
Atualmente, é o número dois da missão do Brasil na ONU, trabalhando com o irmão, Antonio, o chefe do posto. Ele já serviu na OEA entre 1990 e 1994 e na OMC (Organização Mundial do Comércio), entre 2005 e 2008.
Apesar dos gestos positivos recentes, o Brasil não pagou, como reflexo dos cortes orçamentários, sua contribuição obrigatória de US$ 8,1 milhões à OEA no ano passado. O país tampouco informou ao organismo quando e se pretende pagar os US$ 10 milhões da cota de 2015.
Em anos anteriores, o calote havia sido usado como instrumento político, ainda como retaliação pelo caso Belo Monte.