Voto local na Argentina dá força à oposição
Candidatos descolados do kirchnerismo têm bom desempenho em eleições; Buenos Aires terá segundo turno
Para analistas, eleitor pode dissociar escolha da nacional; capital, La Rioja e Córdoba reúnem 20% dos votantes
A oposição largou na frente nas eleições regionais na Argentina.
Neste domingo (5), cerca de um quinto dos eleitores do país foram às urnas. A cidade de Buenos Aires e a província de Córdoba, dois importantes colégios eleitorais do país, confirmaram a preferência por políticos da oposição ao governo da presidente Cristina Kirchner.
Horácio Rodríguez Larreta (PRO) somou 45% dos votos na capital. Ele enfrentará um segundo turno contra Martín Lousteau, da frente política ECO, formada pela União Cívica Radical e os socialistas.
Na disputa nacional, os radicais são aliados do PRO.
Em Córdoba, a contagem informal feita pelos partidos apontava vitória do peronista opositor Juan Schiaretti. Até o fechamento desta edição, porém, a apuração oficial estava em 40%.
A capital e Córdoba são controladas por dois candidatos de oposição à Presidência: Maurício Macri (PRO) e José Manuel de La Sota (Frente Renovadora). Ambos passaram por sua primeira prova de fogo, mas não sem danos.
"O segundo turno [em Buenos Aires] debilita um pouco a oposição. Seria muito bom para Macri ganhar na capital no primeiro turno e ele poderia vencer se tivesse os votos radicais", afirma Carlos Gervasoni, da Universidade Torcuato Di Tella.
Até este domingo, mais de um terço do eleitorado do país havia ido às urnas (36%). Na Argentina, cada província tem autonomia para escolher a data da eleição.
De nove votações realizadas, a oposição venceu quatro, e aliados do governo, três. Nos demais, prevaleceram forças regionais.
O presidente da União Cívica Radical e pré-candidato à Presidência pela frente Cambiemos, Ernesto Sanz, diz que em quatro grandes distritos (Santa Fé, Mendoza, e agora Córdoba e a cidade de Buenos Aires), de 70% a 80% do eleitorado rejeita candidatos kirchneristas.
"O que vale mais: o voto ou as pesquisas?", questionou Sanz, em entrevista na última quarta (1º).
CORRIDA PRESIDENCIAL
As enquetes de intenção de voto apontam vantagem do governo na corrida presidencial. Daniel Scioli, candidato de Cristina, tem 37%, seguido por Macri (32%), de acordo com a mais recente pesquisa da Management & Fit.
"Com os votos dessas províncias, da cidade de Buenos Aires e com uma boa votação na província de Buenos Aires [tradicionalmente peronista], é possível vencer a eleição nacional", afirma Sanz.
Para o analista Jorge Giacobbe Filho, porém, o eleitor separa a escolha nacional da local. "Na cidade, há eleitores que votam em Larreta [PRO] para a cidade e em Scioli [Frente para a Vitória] para presidente", avalia.
"A classe política ainda está operando como há 20 anos, acreditando que tem os votos em um 'corralito' [cercadinho]. O eleitor está muito mais evoluído do que isso."
Se as eleições regionais não podem antecipar o resultado das urnas, esquentam a disputa nacional marcada para outubro. E, por isso, os presidenciáveis se mostraram com os vitoriosos deste domingo (5) na expectativa de aumentar suas chances.
Scioli viajou para La Rioja, que também passou por eleições para governador. Contagem informal dos partidos indicava vitória de um peronista aliado do governo.
Outros kirchneristas de Buenos Aires também voaram para a província, deixando de lado Mariano Recalde, candidato governista que amargou o terceiro lugar na capital portenha.
Macri apareceu com Larreta no bunker do PRO na capital e fez um discurso de olho na disputa nacional.
"Cresce no país o sentimento de que uma mudança é possível, e ela significa mais do que tenta traduzir o governo", disse.
"Não se trata de uma mudança econômica, mas sim de uma nova maneira de governar e de conviver, em que os eleitos não são donos do Estado."
O candidato acusou o governo de semear o medo entre os eleitores, dizendo que sua eleição representaria uma volta à política neoliberal dos anos 90 --rejeitada pelos argentinos.