Opinião
Cristo pregado na foice-e-martelo que Evo Morales entregou é uma aberração
Um engano comum quando se compara a popular e populista gestão de Francisco à frente do Vaticano com a de seus dois antecessores imediatos é considerar que ele é "de esquerda".
O conceito parte de uma confusão, como a própria denominação de espectro ideológico é hoje, baseada na premissa de que João Paulo 2º (1978-2005) e Bento 16 (2005-2013) eram "de direita" por serem associados à ortodoxia da Igreja Católica.
Francisco claramente é mais "progressista" (aspas obrigatórias) quando o assunto é comportamento, por exemplo. Seu trabalho com comunidades carentes de Buenos Aires é visto também como um sinal de proximidade do pensamento da "igreja dos pobres", que dos anos 60 aos anos 80 esteve associado à Teologia da Libertação e ao combate às ditaduras na América do Sul.
Mas diversos relatos de suas atividades na Argentina mostram um Jorge Bergoglio próximo do peronismo, o populismo que pode até ser "de esquerda", mas está longe do marxismo.
Discursos duros contra o capitalismo e o consumismo moderno, algo "de esquerda", são encontrados aos montes nos legados dos seus dois antecessores. Mas também a condenação do comunismo, que ambos ajudaram a enterrar.
Bento, ao beatificar o antecessor em 2011, chegou a associar a Teologia da Libertação ao Anticristo, por pressupor um Cristo revolucionário no sentido materialista, capaz de justificar a violência. Francisco não foi tão longe, mas declarou várias vezes que os comunistas "roubaram a nossa bandeira".
Receber das mãos do populista Evo Morales, o presidente da Bolívia, um Cristo pregado na foice-e-martelo deve ter parecido aberrante a Francisco.
O comunismo foi responsável pelas maiores perseguições ao catolicismo no século 20. A comparação possível é tentar unir a estrela de Davi a uma suástica nazista e presenteá-la a um rabino.
Ou Evo quis revender a conexão entre Marx e a igreja na América Latina ou simplesmente foi ignorante da história católica.