Conflito na Ucrânia leva a 'diáspora' para Polônia
Total de ucranianos no país vizinho é estimado hoje em quase 400 mil
Polônia emitiu no ano passado 330 mil vistos de trabalho temporário a ucranianos; número cresce durante o verão
Com o tom cerimonioso de quem empunha pequenos troféus, a ucraniana Inna Logvinova, 36, mostra à Folha um capacete e duas garrafas para a confecção de coquetel molotov. São relíquias da praça da Independência, no centro de Kiev, onde há pouco mais de um ano protestos desencadearam o afastamento do presidente pró-Moscou Viktor Yanukovich.
Professora de inglês, Logvinova deixou seu país há três meses junto com a irmã, que temia que sua vontade de lutar pela Ucrânia contra os separatistas pró-russos pusesse suas vidas em risco.
Enquanto ela fala, ouvem-se no andar de baixo as notas de um concerto de Chopin, ícone cultural na Polônia, onde Logvinova vive agora.
Hoje ela procura trabalho e frequenta aulas de polonês no Ukrainian World, instituição criada em 2014 em Varsóvia para apoiar refugiados.
Desde a eclosão do conflito no país, no ano passado, iniciou-se uma brusca diáspora de ucranianos, elevando de 1.000 em 2013 para quase 14 mil no ano passado o total de ucranianos que pediram asilo na União Europeia, segundo dados do European Asylum Support Office.
De janeiro a maio deste ano, a estimativa é que o volume esteja perto de 9.000.
A Polônia, que é uma das sociedades mais homogêneas da Europa, com só 0,2% de estrangeiros na população, tem sido receptiva, segundo Marta Jaroszewicz, especialista em imigração do OSW, centro de estudos que faz análises sobre o Leste Europeu.
Em 2014, o país emitiu aproximadamente 330 mil vistos de trabalho temporário para ucranianos, um aumento de mais de 50% em relação ao ano anterior.
Jaroszewicz estima que atualmente quase 400 mil ucranianos estejam na Polônia. "O número cresce no verão, porque muitos deles conseguem trabalho em fazendas e no setor da construção."
Com leis de imigração relativamente lenientes, além de laços culturais e étnicos com os vizinhos, a Polônia tornou-se um destino óbvio.
Muitos dos estrangeiros que chegam são trabalhadores escapando não só da guerra, mas da economia devastada, diz Tomasz Czuwara, membro do conselho da Open Dialog Foundation, ONG que comanda o Ukrainian World.
É o caso de Switlana, que pediu para não ter o sobrenome divulgado. A jovem dona de casa deixou a Ucrânia e o filho adolescente há um mês.
"Usei minhas economias para vir buscar melhores condições para sustentar meu filho, que ficou com minha família. Procuro emprego como faxineira [em Varsóvia]."