Anúncio é recebido com euforia em Teerã
Milhares vão às ruas na capital do Irã após jejum de mês sagrado islâmico; nas redes sociais, sentimento é de alívio
Imprensa governista vê derrota do 'sionismo'; para cidadãos, ainda é preciso observar efeito do acordo na economia
"Sabia que este dia chegariahamid r.engenheiro, que elogia o acordoNão acho que seja do nosso interesse, apesar do que martelam as TVsshohre b.enfermeira, que critica o acordo
A notícia do acordo nuclear chegou a Teerã no início da tarde de uma terça-feira anestesiada pelo calor de 40 graus e pelo jejum do mês sagrado do Ramadã. Autoridades reforçaram o policiamento em praças e ruas onde costuma haver celebrações populares, mas, até então, quase ninguém apareceu.
Foi o que relataram à Folha moradores de diversos bairros da capital iraniana.
Contrastando com a morosidade das ruas, a euforia se espalhou rápido pelas redes sociais –bloqueadas, mas amplamente acessadas graças a programas antifiltros.
Alegria, alívio e orgulho eram os sentimentos dominantes dos iranianos, um povo ufanista que andava carente de alegrias coletivas.
"Graças à vontade do povo e ao trabalho dos negociadores, nuvens escuras e sanções deixarão o céu do Irã", escreveu uma iraniana no Twitter, antecipando a volta triunfal da comitiva do país.
O júbilo só se espalhou pelas ruas depois que as famílias terminaram o iftar, a refeição que marca o fim do jejum, ao anoitecer. Por causa do verão boreal e de seus dias prolongados, isso aconteceu por volta das 20h30 locais.
A partir de então, milhares de pessoas saíram às ruas para celebrar. Muitas dançavam e tinham o rosto pintado com as cores da bandeira nacional. Houve buzinaços nas principais vias de Teerã.
"O ambiente está carregado de esperança", diz o engenheiro Hamid R., 27, que fez parte do Movimento Verde, esmagado pelo regime por protestar contra supostas fraudes na reeleição do então presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2009.
"Eu sabia que este dia chegaria", diz o jovem, fervoroso muçulmano, mas crítico dos ultraconservadores que ainda controlam o Judiciário e as forças de segurança.
Dono de um estúdio de fotografia, Nasser Joshaghani, 62, torce pelo fim rápido das sanções que fomentam inflação e sufocam a indústria petroleira. "Só quero que as pessoas tenham mais empregos e que a economia melhore."
Na imprensa favorável ao presidente Hasan Rowhani, o tom era de ufanismo. Alguns comentaristas governistas disseram que o acordo é uma derrota do "sionismo", termo oficial com o qual o Irã se refere a Israel.
CAUTELA
Houve também reações mais cautelosas, como a do arquiteto Mohammad Masih Y., 27. "É preciso ser paciente e observar quais serão os efeitos do acordo na economia", afirma o rapaz, também religioso, que apoia setores mais conservadores do país.
"É importante lembrar que o Ocidente nos negou esses mesmos direitos há dez anos e, hoje, os arrancamos graças à nossa resistência. Nós, conservadores, pensamos que é resistindo ao Ocidente que se consegue marcar pontos."
A enfermeira aposentada Shohre B., 56, diz que o país está sendo enganado pela mídia oficial. "Não acho que o acordo seja do nosso interesse, apesar do que martelam TVs e rádios. Nossos governantes apenas tiveram que recuar porque já não conseguiam mais avançar."