Brasil lembra mediação de 2010 para parabenizar pacto atômico
Israel e Arábia Saudita temem expansão persa no Oriente Médio
O governo brasileiro citou a tentativa de mediação de um acordo nuclear em 2010 para parabenizar o Irã e as potências pelo pacto sobre o programa atômico.
Em nota divulgada nesta terça (14), o Itamaraty comemorou a "vontade política, a persistência e a determinação" das delegações nos 20 meses de negociação.
"O Brasil sempre apoiou, inclusive por meio da Declaração de Teerã, os esforços destinados a assegurar a natureza exclusivamente pacífica do programa nuclear iraniano e a normalização das relações do Irã com a comunidade internacional."
Em 2010, Brasil e Turquia deram apoio a uma proposta em que o Irã se comprometia a enviar urânio enriquecido para inspeção em solo turco. A proposta, porém, foi recusada pelas potências.
Salvo o Canadá, que adotou uma postura mais cética, a maioria dos países ocidentais comemorou o acordo. A chanceler alemã, Angela Merkel, chamou a medida de "um importante sucesso".
Para o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, o fim do isolamento iraniano incentivará a criação de uma grande coalizão contra o Estado Islâmico.
Com o fim das sanções, o país xiita terá mais facilidade de financiar seus aliados que lutam contra a milícia radical. Dentre eles, o grupo radical libanês Hizbullah, o regime sírio e milícias xiitas no Iraque e no Iêmen.
'ERRO HISTÓRICO'
O risco de aumento da influência do Irã no Oriente Médio foi um dos motivos de irritação para os dois principais aliados dos EUA na região: Israel e Arábia Saudita.
Principal lobista contrário a qualquer acordo com o Irã, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, considerou a decisão das potências "um erro histórico".
"O acordo dá todo o incentivo para que o Irã não mude. Na próxima década, ele premiará o regime terrorista do país com centenas de milhões de dólares", disse, em discurso no Parlamento israelense.
Para o chefe de governo, o acordo dará ao Irã um caminho direto para a bomba atômica. Na visão de Netanyahu, o Estado judaico seria o primeiro alvo de uma arma nuclear iraniana.
No caso da Arábia Saudita, o temor é de um desequilíbrio de forças no Oriente Médio. A monarquia sunita é o país mais influente da região e rival histórico do Irã.
Em nota, as autoridades sauditas alertaram o Irã a não usar a renda obtida com o fim das sanções para "fomentar a desordem na região".
A monarquia se preocupa principalmente com a influência iraniana no Iêmen, onde os houthis derrubaram o governo pró-saudita.
Para tentar acalmar os ânimos dos aliados, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversou com Netanyahu e com o rei saudita, Salman.
Obama disse ao israelense que o pacto não atenua a preocupação dos EUA com o apoio do Irã ao terrorismo ou suas ameaças a Israel.